Contributos na história da Psicologia para o estudo do comportamento humano na sua complexidade
Freud e o inconsciente
Freud distinguiu três níveis de consciência, na sua inicial divisão topográfica da mente:
- Consciente - diz respeito à capacidade de ter percepção dos sentimentos, pensamentos, lembranças e fantasias do momento;
- Pré-consciente - relaciona-se com os conteúdos que podem facilmente chegar à consciência;
- Inconsciente - refere-se ao material não disponível à consciência ou ao escrutínio do indivíduo.
No entanto, o ponto nuclear da abordagem psicanalítica de Freud é a convicção da existência do inconsciente como:
a) Um receptáculo de lembranças traumáticas reprimidas;
b) Um reservatório de impulsos que constituem fonte de ansiedade, por serem socialmente ou eticamente inaceitáveis para o indivíduo.
A perspectiva psicanalítica de Freud surgiu no início do século XX, dando especial importância às forças inconscientes que motivam o comportamento humano. Freud, baseado na sua experiência clínica, acreditava que a fonte das perturbações emocionais residia nas experiências traumáticas reprimidas nos primeiros anos de vida. Desta forma, assumia que os conteúdos inconscientes, apenas se encontravam disponíveis para a consciência, de forma disfarçada (através de sonhos e lapsos de linguagem, por exemplo). Neste sentido, Freud desenvolveu a psicanálise, uma abordagem terapêutica que tem por objectivo dar a conhecer às pessoas os seus próprios conflitos emocionais inconscientes. Freud acreditava que a personalidade forma-se nos primeiros anos de vida, quando as crianças lidam com os conflitos entre os impulsos biológicos inatos, ligados às pulsões e às exigências da sociedade.
Considerou que estes conflitos ocorrem numa sequência invariante de fases baseadas na maturação do desenvolvimento psicossexual, no qual a gratificação se desloca de uma zona do corpo para outra – da zona oral para a anal e depois para a zona genital. Em cada fase, o comportamento, que é a principal fonte de gratificação, muda – da alimentação para a eliminação e, eventualmente, para a atividade sexual.
Das cinco fases do desenvolvimento da personalidade, Freud considerou as três primeiras - relativas aos primeiros anos de vida – como sendo cruciais. Sugeriu que, o facto das crianças receberem muita ou pouca gratificação em qualquer uma destas fases, pode levar ao risco de fixação – uma paragem no desenvolvimento – e podem precisar de ajuda para ir para além da fase dessa fase. Acreditava ainda que as manifestações de fixações na infância emergiam em adulto.
Segundo Freud, durante a fase fálica, no período pré-escolar, quando a zona de prazer muda para os genitais, ocorre um acontecimento-chave no desenvolvimento psicossexual: os rapazes desenvolvem uma ligação ou vínculo sexual à mãe e as raparigas ao pai e vêem como rival a figura parental do mesmo sexo (denominado de “Complexo de Édipo”); o rapaz aprende que a rapariga não tem pênis, assumindo que aquele foi cortado e teme que o seu pai o possa também castrar. A rapariga, por sua vez, experiencia, o que Freud chamou de inveja do pénis e culpa a sua mãe por não lhe ter dado um pênis. Possivelmente, as crianças resolvem a sua angústia identificando-se com a figura parental do mesmo sexo. Durante o período escolar, fase da latência, as crianças acalmam, socializam-se, desenvolvem competências e aprendem acerca de si própria e da sociedade. A fase genital, a última fase subsiste pela vida adulta. As mudanças físicas da puberdade reativam a libido, a energia que alimenta as pulsões sexuais.
As pulsões sexuais da fase fálica, reprimidas durante a latência, voltam a emergir para fluir de uma forma socialmente aceite, naquilo que Freud definiu como relações heterossexuais com pessoas forra da família de origem.
Freud propôs ainda três hipotéticas instâncias da personalidade: o id, o ego e o superego.
O id é o reservatório inconsciente das pulsões, as quais estão sempre ativas. Regido pelo princípio do prazer, o id exige satisfação imediata desses impulsos, sem levar em conta a possibilidade de consequências indesejáveis.
O ego funciona principalmente a nível consciente e pré-consciente, embora também contenha elementos inconscientes, pois evoluiu do id.
Regido pelo princípio da realidade, o ego cuida dos impulsos do id, logo que encontre a circunstância adequada. Desejos inadequados não são satisfeitos, mas reprimidos. Apenas parcialmente consciente, o superego serve como um censor das funções do ego (contendo os ideais do indivíduo derivados dos valores familiares e sociais), sendo a fonte dos sentimentos de culpa e medo de punição.
Obstáculo ao Crescimento: a Ansiedade
Para Freud, o principal problema da psique é encontrar maneiras de enfrentar a ansiedade. Esta é provocada por um aumento, esperado ou previsto, da tensão ou desprazer, podendo se desenvolver em qualquer situação (real ou imaginada), quando a ameaça a alguma parte do corpo ou da psique é muito grande para ser ignorada, dominada ou descarregada. As situações prototípicas que causam ansiedade incluem as seguintes:
1. Perda de um objecto desejado - Por exemplo, uma criança privada de um dos pais, de um amigo íntimo ou de um animal de estimação.2. Perda de amor - A rejeição ou o fracasso em reconquistar o amor, por exemplo, ou a desaprovação de alguém que lhe importa.3. Perda de identidade - É o caso, por exemplo, daquilo que Freud chama de medo de castração, da perda de prestígio, de ser ridicularizado em público.4. Perda de auto-estima -. Por exemplo a desaprovação do Superego por atos ou traições que resultam em culpa ou ódio em relação a si mesmo.
A ameaça desses ou de outros eventos causa ansiedade e haveria, segundo Freud, dois modos de diminuir a ansiedade. O primeiro modo seria lidando diretamente com a situação. Resolvemos problemas, superamos obstáculos, enfrentamos ou fugimos de ameaças, e chegamos a termo de um problema a fim de minimizar seu impacto. Desta forma, lutamos para eliminar dificuldades e diminuir probabilidades de sua repetição, reduzindo, assim, as perspectivas de ansiedade adicional no futuro.
A outra forma de defesa contra a ansiedade deforma ou nega a própria situação. O Ego protege a personalidade contra a ameaça, falsificando a natureza desta. Os modos pelos quais se dão as distorções são denominados Mecanismos de Defesa.
Mecanismos de defesa
Mecanismos de defesa são processos psíquicos inconscientes que aliviam o ego do estado de tensão psíquica entre o id intrusivo, o superego ameaçador e as fortes pressões que emanam da realidade externa.
Devido a esse jogo de forças presente na mente, em que as mesmas se opõem e lutam entre si, surge a ansiedade cuja função é a de assinalar um perigo interno. Esses mecanismos entram em ação para possibilitar que o ego estabeleça soluções de compromisso (para problemas que é incapaz de resolver), ao permitir que alguns componentes dos conteúdos mentais indesejáveis cheguem à consciência de forma disfarçada.
No que toca ao fortalecimento do ego, a eficiência desses mecanismos depende do nível de integração dessas forças mentais conflituosas por parte do ego, pois diferentes modalidades de formação de compromisso poderão (ou não) vir a tornar-se sintomas psiconeuróticos.
Quanto mais o ego estiver bloqueado em seu desenvolvimento, por estar enredado em antigos conflitos (fixações), apegando-se a modos arcaicos de funcionamento, maior é a possibilidade de sucumbir a essas forças.
Os principais mecanismos de defesa são os seguintes:
1. Repressão - retirada de ideia, afetos ou desejos perturbadores da consciência, pressionando-os para o inconsciente.
2. Formação reativa - fixação de uma ideia, afeto ou desejo na consciência , opostos ao impulso inconsciente temido.
3. Projeção - sentimentos próprios indesejáveis são atribuídos a outras pessoas.
4. Regressão - retorno a formas de gratificação de fases anteriores, devido aos conflitos que surgem em estágios posteriores do desenvolvimento.
5. Racionalização - substituição do verdadeiro, porém assustador, motivo do comportamento por uma explicação razoável e segura.
6. Negação - recusa consciente para perceber fatos perturbadores. Retira do indivíduo não só a percepção necessária para lidar com os desafios externos, mas também a capacidade de valer-se de estratégias de sobrevivência adequadas.
7. Deslocamento - redirecionamento de um impulso para um alvo substituto.
8. Anulação - através de uma ação, busca-se o cancelamento da experiência prévia e desagradável.
9. Interjeição - estreitamente relacionada com a identificação, visa resolver alguma dificuldade emocional do indivíduo, ao tomar para a própria personalidade, certas características de outras pessoas.
10. Sublimação - parte da energia investida nos impulsos sexuais é direcionada à consecução de realizações socialmente aceitáveis (e.g., artísticas ou científicas).
Em suma, a teoria de Freud constituiu uma importante contribuição histórica. Fez-nos tomar consciência dos pensamentos e emoções inconscientes, da ambivalência das relações precoces de pais e filhos, e da presença, desde o nascimento, de pulsões sexuais. O seu método psicanalítico influenciou muito a psicoterapia atual, embora a teoria freudiana se inscreva largamente na história e sociedade da época (na cultura europeia da época Vitoriana).
Bibliografia:
Livro de Psicologia “Mundo da Criança” de Diane E. Papalia, Sally Wendkos Olds e Ruth Duskin Feldman.
Freud e o inconsciente
Freud distinguiu três níveis de consciência, na sua inicial divisão topográfica da mente:
- Consciente - diz respeito à capacidade de ter percepção dos sentimentos, pensamentos, lembranças e fantasias do momento;
- Pré-consciente - relaciona-se com os conteúdos que podem facilmente chegar à consciência;
- Inconsciente - refere-se ao material não disponível à consciência ou ao escrutínio do indivíduo.
No entanto, o ponto nuclear da abordagem psicanalítica de Freud é a convicção da existência do inconsciente como:
a) Um receptáculo de lembranças traumáticas reprimidas;
b) Um reservatório de impulsos que constituem fonte de ansiedade, por serem socialmente ou eticamente inaceitáveis para o indivíduo.
A perspectiva psicanalítica de Freud surgiu no início do século XX, dando especial importância às forças inconscientes que motivam o comportamento humano. Freud, baseado na sua experiência clínica, acreditava que a fonte das perturbações emocionais residia nas experiências traumáticas reprimidas nos primeiros anos de vida. Desta forma, assumia que os conteúdos inconscientes, apenas se encontravam disponíveis para a consciência, de forma disfarçada (através de sonhos e lapsos de linguagem, por exemplo). Neste sentido, Freud desenvolveu a psicanálise, uma abordagem terapêutica que tem por objectivo dar a conhecer às pessoas os seus próprios conflitos emocionais inconscientes. Freud acreditava que a personalidade forma-se nos primeiros anos de vida, quando as crianças lidam com os conflitos entre os impulsos biológicos inatos, ligados às pulsões e às exigências da sociedade.
Considerou que estes conflitos ocorrem numa sequência invariante de fases baseadas na maturação do desenvolvimento psicossexual, no qual a gratificação se desloca de uma zona do corpo para outra – da zona oral para a anal e depois para a zona genital. Em cada fase, o comportamento, que é a principal fonte de gratificação, muda – da alimentação para a eliminação e, eventualmente, para a atividade sexual.
Das cinco fases do desenvolvimento da personalidade, Freud considerou as três primeiras - relativas aos primeiros anos de vida – como sendo cruciais. Sugeriu que, o facto das crianças receberem muita ou pouca gratificação em qualquer uma destas fases, pode levar ao risco de fixação – uma paragem no desenvolvimento – e podem precisar de ajuda para ir para além da fase dessa fase. Acreditava ainda que as manifestações de fixações na infância emergiam em adulto.
Segundo Freud, durante a fase fálica, no período pré-escolar, quando a zona de prazer muda para os genitais, ocorre um acontecimento-chave no desenvolvimento psicossexual: os rapazes desenvolvem uma ligação ou vínculo sexual à mãe e as raparigas ao pai e vêem como rival a figura parental do mesmo sexo (denominado de “Complexo de Édipo”); o rapaz aprende que a rapariga não tem pênis, assumindo que aquele foi cortado e teme que o seu pai o possa também castrar. A rapariga, por sua vez, experiencia, o que Freud chamou de inveja do pénis e culpa a sua mãe por não lhe ter dado um pênis. Possivelmente, as crianças resolvem a sua angústia identificando-se com a figura parental do mesmo sexo. Durante o período escolar, fase da latência, as crianças acalmam, socializam-se, desenvolvem competências e aprendem acerca de si própria e da sociedade. A fase genital, a última fase subsiste pela vida adulta. As mudanças físicas da puberdade reativam a libido, a energia que alimenta as pulsões sexuais.
As pulsões sexuais da fase fálica, reprimidas durante a latência, voltam a emergir para fluir de uma forma socialmente aceite, naquilo que Freud definiu como relações heterossexuais com pessoas forra da família de origem.
Freud propôs ainda três hipotéticas instâncias da personalidade: o id, o ego e o superego.
O id é o reservatório inconsciente das pulsões, as quais estão sempre ativas. Regido pelo princípio do prazer, o id exige satisfação imediata desses impulsos, sem levar em conta a possibilidade de consequências indesejáveis.
O ego funciona principalmente a nível consciente e pré-consciente, embora também contenha elementos inconscientes, pois evoluiu do id.
Regido pelo princípio da realidade, o ego cuida dos impulsos do id, logo que encontre a circunstância adequada. Desejos inadequados não são satisfeitos, mas reprimidos. Apenas parcialmente consciente, o superego serve como um censor das funções do ego (contendo os ideais do indivíduo derivados dos valores familiares e sociais), sendo a fonte dos sentimentos de culpa e medo de punição.
Obstáculo ao Crescimento: a Ansiedade
Para Freud, o principal problema da psique é encontrar maneiras de enfrentar a ansiedade. Esta é provocada por um aumento, esperado ou previsto, da tensão ou desprazer, podendo se desenvolver em qualquer situação (real ou imaginada), quando a ameaça a alguma parte do corpo ou da psique é muito grande para ser ignorada, dominada ou descarregada. As situações prototípicas que causam ansiedade incluem as seguintes:
1. Perda de um objecto desejado - Por exemplo, uma criança privada de um dos pais, de um amigo íntimo ou de um animal de estimação.2. Perda de amor - A rejeição ou o fracasso em reconquistar o amor, por exemplo, ou a desaprovação de alguém que lhe importa.3. Perda de identidade - É o caso, por exemplo, daquilo que Freud chama de medo de castração, da perda de prestígio, de ser ridicularizado em público.4. Perda de auto-estima -. Por exemplo a desaprovação do Superego por atos ou traições que resultam em culpa ou ódio em relação a si mesmo.
A ameaça desses ou de outros eventos causa ansiedade e haveria, segundo Freud, dois modos de diminuir a ansiedade. O primeiro modo seria lidando diretamente com a situação. Resolvemos problemas, superamos obstáculos, enfrentamos ou fugimos de ameaças, e chegamos a termo de um problema a fim de minimizar seu impacto. Desta forma, lutamos para eliminar dificuldades e diminuir probabilidades de sua repetição, reduzindo, assim, as perspectivas de ansiedade adicional no futuro.
A outra forma de defesa contra a ansiedade deforma ou nega a própria situação. O Ego protege a personalidade contra a ameaça, falsificando a natureza desta. Os modos pelos quais se dão as distorções são denominados Mecanismos de Defesa.
Mecanismos de defesa
Mecanismos de defesa são processos psíquicos inconscientes que aliviam o ego do estado de tensão psíquica entre o id intrusivo, o superego ameaçador e as fortes pressões que emanam da realidade externa.
Devido a esse jogo de forças presente na mente, em que as mesmas se opõem e lutam entre si, surge a ansiedade cuja função é a de assinalar um perigo interno. Esses mecanismos entram em ação para possibilitar que o ego estabeleça soluções de compromisso (para problemas que é incapaz de resolver), ao permitir que alguns componentes dos conteúdos mentais indesejáveis cheguem à consciência de forma disfarçada.
No que toca ao fortalecimento do ego, a eficiência desses mecanismos depende do nível de integração dessas forças mentais conflituosas por parte do ego, pois diferentes modalidades de formação de compromisso poderão (ou não) vir a tornar-se sintomas psiconeuróticos.
Quanto mais o ego estiver bloqueado em seu desenvolvimento, por estar enredado em antigos conflitos (fixações), apegando-se a modos arcaicos de funcionamento, maior é a possibilidade de sucumbir a essas forças.
Os principais mecanismos de defesa são os seguintes:
1. Repressão - retirada de ideia, afetos ou desejos perturbadores da consciência, pressionando-os para o inconsciente.
2. Formação reativa - fixação de uma ideia, afeto ou desejo na consciência , opostos ao impulso inconsciente temido.
3. Projeção - sentimentos próprios indesejáveis são atribuídos a outras pessoas.
4. Regressão - retorno a formas de gratificação de fases anteriores, devido aos conflitos que surgem em estágios posteriores do desenvolvimento.
5. Racionalização - substituição do verdadeiro, porém assustador, motivo do comportamento por uma explicação razoável e segura.
6. Negação - recusa consciente para perceber fatos perturbadores. Retira do indivíduo não só a percepção necessária para lidar com os desafios externos, mas também a capacidade de valer-se de estratégias de sobrevivência adequadas.
7. Deslocamento - redirecionamento de um impulso para um alvo substituto.
8. Anulação - através de uma ação, busca-se o cancelamento da experiência prévia e desagradável.
9. Interjeição - estreitamente relacionada com a identificação, visa resolver alguma dificuldade emocional do indivíduo, ao tomar para a própria personalidade, certas características de outras pessoas.
10. Sublimação - parte da energia investida nos impulsos sexuais é direcionada à consecução de realizações socialmente aceitáveis (e.g., artísticas ou científicas).
Em suma, a teoria de Freud constituiu uma importante contribuição histórica. Fez-nos tomar consciência dos pensamentos e emoções inconscientes, da ambivalência das relações precoces de pais e filhos, e da presença, desde o nascimento, de pulsões sexuais. O seu método psicanalítico influenciou muito a psicoterapia atual, embora a teoria freudiana se inscreva largamente na história e sociedade da época (na cultura europeia da época Vitoriana).
Bibliografia:
Livro de Psicologia “Mundo da Criança” de Diane E. Papalia, Sally Wendkos Olds e Ruth Duskin Feldman.