Nunca o Partido dos Trabalhadores, desde que alcançou o governo federal, correu tanto risco de perder a eleição. Nunca ele sofreu tantos ataques daqueles setores políticos, econômicos e de classe, os quais costuma contemplar em suas políticas econômicas. É o lado que o partido escolheu para governar, desde que chegou ao poder. Governar com os setores mais reacionários e conservadores da política e da sociedade brasileira, em nome de uma controversa “governabilidade”, mantendo, ao mesmo tempo, uma política compensatória que visa minimizar os danos da economia de mercado para as faixas mais pobres da sociedade.
Por outro lado, aqueles que foram criminalizados, tachados de vândalos e rejeitados nas manifestações de Junho-13, que sofreram nas mãos das polícias para o deleite dos próprios petistas, são os que agora aderem à campanha da presidente Dilma Rousseff na sua difícil busca pela reeleição. Dentre eles, Marcelo Freixo e outros parlamentares eleitos pelo PSOL para a Câmara dos Deputados.
Se o PT ganhar esta eleição, será com o apoio daqueles a quem o PT tem virado as costas, ou apoiado timidamente aqui e ali, como o caso do movimento LGBT (preterido quando Dilma recuou ante os chiliques da Bancada Evangélica aliada), dos movimentos negros, dos partidos de esquerda, dos movimentos sociais como os Sem-Terra, entre outros. Terá a obrigação de fazer uma reflexão sobre os rumos do seu próximo mandato. Abandonar as alianças com os setores mais reacionários da política, promover a regulamentação e democratização das mídias, a Reforma Agrária em ampla escala, abraçar cada vez mais as bandeiras progressistas, como a descriminalização do aborto, a regulamentação do uso das drogas, desmilitarização das polícias estaduais, a defesa dos direitos civis para homossexuais, a defesa de um Estado laico onde o direito à religião seja defendida e a intromissão dos interesses religiosos na política combatida, o apoio às entidades que lutam pelos Direitos Humanos, a revisão da Lei de Anistia, a Reforma Política... Por não abraçar de vez essas bandeiras, como muitos dos nossos vizinhos sul-americanos, é que o PT está cada vez mais em vias de perder não só a eleição, mas o bonde da história.
Pode ser a última chance do PT. Já são 12 anos no poder, e seu governo já apresenta falta de fôlego a cada nova disputa em que estas demandas surgem nas campanhas mas ficam engavetadas no governo. A polarização desta última eleição deixou claro para todos nós que o país está dividido numa luta onde os setores da direita estão coordenados, coesos e focados em seus objetivos (principalmente a manutenção de seu status enquanto tradicional classe-média branca detentora das oportunidades) e as novas classes que ascenderam através de políticas de redistribuição de renda e os grupos fragmentados das minorias que, de uma forma ou de outra representam uma ameaça ao modelo tradicional-patriarcal-religioso-conservador-burguês da “família” -- que, por sinal, não vota no PT. Ou o PT assume o protagonismo na liderança desses novos atores sociais, ou será apenas a segunda opção que as classes dominantes instrumentalizam no poder, descartando-o imediatamente quando um legítimo representante dessa classe-média branca aparece com chances de vencer, como é o caso de Aécio Neves nesta eleição.
Talvez o PT não tenha nunca mais outra oportunidade.