A educação do Rio e as revelações tardias do longevo secretário
Entrevista com o secretário de Educação do Estado do Rio, Wilson Risolia, em jornal de grande circulação traz, nesta segunda-feira (22), graves denúncias a respeito da rede estadual de ensino. Risolia fala em "hipocrisia de muitos que se dizem defensores da educação pública de qualidade, mas fazem um discurso barato", mas diz que prefere não citar nomes, apesar de serem "pessoas que se beneficiam de uma lógica perversa". O secretário relata ainda as dificuldades que sofreu quando começou a trocar diretores das escolas.
"O discurso era de que havia eleição. Não sou contra eleição, desde que seja séria. Mas o que aconteceu é que a prática acabava trazendo forças pouco ortodoxas para o processo, com interesses diferentes daquele fundamental, que é gerir bem uma escola. Por isso é que você tem essa prática muito ruim de indicação. Isso não funciona. Você fica refém, digo entre aspas, do voto. Inauguramos um processo seletivo e tivemos muita resistência de alguns parlamentares e de sindicatos. Não existe nada mais democrático do que qualquer professor, de qualquer lugar do estado, poder se candidatar a uma vaga para dirigir qualquer escola da rede. Fomos mudando a prática ao longo do tempo. Houve casos emblemáticos de pessoas que tiramos, e vinha uma força externa extremamente agressiva querendo saber por que foram tiradas. Era passeata, apitaço, coisas do gênero", revela o secretário.
Ainda segundo Risolia, "havia de tudo": "Desde prestação de contas de 3 mil quilos de tangerina até escolas com dinheiro no caixa, mas cujo vaso sanitário não tinha tampa e nem papel higiênico. Claro que algumas intervenções têm que ser feitas pela secretaria. Mas as escolas tinham verba para essas coisas. Na educação pública, as pessoas se conformaram com aquilo, parecia que fazia parte do folclore. As pessoas perderam a capacidade de se indignar"(...) "Exonerei diretor após visitar escolas três dias seguidos e ver que ele não estava lá. Vi casos de escolas com turma declarada de 30 alunos, mas com apenas quatro ou cinco presentes. Isso, se não acompanhar de perto, você não pega."
O que surpreende nesta entrevista é que, ao fazer estas revelações, Risolia expõe falhas do próprio governo do Estado, que permitiu que estas condições permanecessem por tanto tempo. Afinal, Risolia, como também afirma a reportagem, completará neste mês quatro anos e dois meses à frente da Secretaria de Estado de Educação. Desde 1983, nenhum gestor permaneceu tanto tempo no posto.
Por que só agora, depois de tanto tempo, o secretário fez estas revelações? Por que permanecer no cargo por tanto tempo, sabendo destas práticas? Por que não agiu antes? Risolia só fala isso agora porque está deixando a pasta?
E se há tantos problemas na rede estadual de ensino, por que Risolia vai deixar o cargo? Ou será que ele se omitiu este tempo todo, sem trazer à tona estes problemas, da mesma forma que diretores se omitiram para não serem demitidos?
E o Ministério Público, vai tomar providências sobre as declarações? Ou vai ficar quieto?
Mais grave que isso: o que tem a dizer o governador? Que providências serão tomadas com relação a esta delação, que não é nem premiada, é quase fisiológica?