Rio de Janeiro – Os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) divulgados pelo Ministério da Educação no início do mês causaram muita apreensão entre os profissionais do setor no Rio de Janeiro. A educação oferecida pelas redes públicas no estado aparece em penúltimo lugar (ao lado de Alagoas, Amapá e Rio Grande do Norte) no ranking nacional de qualidade estabelecido pelo MEC. Tal performance uniu dirigentes sindicais e autoridades públicas no reconhecimento da necessidade de mudanças imediatas na educação fluminense.
De acordo com o Ideb, existem segmentos particularmente sensíveis. É o caso do ensino médio na rede pública, onde o índice do Rio de Janeiro é de 2,8 e fica ainda abaixo da pontuação média obtida pelo estado (3,3) que leva em conta também a rede particular de ensino. No caso do ensino fundamental, a rede estadual fluminense obteve a décima pior pontuação no ranking nacional (4,0) e nos anos finais (6º ao 9º ano), a sétima pior (3,1). Se levada em conta a rede particular, esse índice sobe nos dois segmentos para 4,7 e 3,8, respectivamente.
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“A explicação para o Rio ter ficado na penúltima colocação do Ideb pode ser resumida em três pontos: falta de investimentos na educação básica, falta de um planejamento pedagógico democrático que respeite a autonomia das escolas e a necessidade imediata de ampliação do horário de estudos de crianças e de adolescentes na rede pública”, afirma o professor Túlio Paolino, diretor licenciado do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe). Segundo o sindicato, o déficit de profissionais nas escolas públicas do Rio atinge a marca de dez mil pessoas.
Diretor do Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro (Sinpro), Afonso Celso Teixeira aponta a prática da aprovação automática, que existe na rede pública do município há 15 anos, como outro fator que “contribuiu muito” para o resultado do Ideb: “Essa prática, imposta pelos sucessivos governos da era Cesar Maia, trouxe para o ensino municipal desmotivação, descompromisso e desânimo. As deficiências dos estudantes não eram encaradas com seriedade e, sim, com técnicas de escamoteamento dos problemas”, diz.
Essa política, segundo Afonso Celso, prejudicou os profissionais da educação. "Os professores, vítimas dessa política, acomodaram-se ou partiram para outras atividades. Os que resistiram foram se tornando um grupo cada vez menor", avalia. No âmbito privado, ele denuncia abusos do patronato, aliado aos baixos salários, afastaram os melhores profissionais das escolas, além de não estimular a contínua capacitação”, diz.
Os prejuízos causados pela aprovação automática também são citados pela secretária estadual de Educação, Tereza Porto. "A aprovação continuada no ensino fundamental é um problema. Os alunos de ensino médio da rede pública já vêm de um passado de má formação educacional”, lamenta.
Tereza acredita que a melhor receita para reverter o panorama revelado pelo Ideb é "investir na capacitação e na valorização do corpo docente" e anuncia para breve a contratação de 30 mil novos professores: "Os bons resultados virão com o tempo. Este ano, nós sabíamos que ficaríamos estacionados no Ideb. Mas, acredito que os resultados serão visíveis já nos próximos anos".
Público x Particular
O estudo divulgado pelo MEC também mostra a diferença de nível entre as redes públicas e a rede particular no Rio de Janeiro. Para Túlio Paolino, é preciso investir na qualidade daquilo que é oferecido pelas escolas públicas à sociedade. “Precisamos ampliar o horário de estudo da juventude e tornar mais interessante para o estudante a sua relação com a escola. Precisamos enriquecer a grade de disciplinas e estimular a integração da escola com espaços de arte e cultura”, diz.
Na opinião de Afonso Celso, “ainda falta muito” para que o nível do ensino nas redes públicas e particular se torne equilibrado. “Primeiro, é preciso corrigir a enorme carência de professores na rede pública. Segundo, é fundamental que os investimentos mínimos em educação sejam realmente cumpridos pelos governos cariocas. E, quando falo em investimento, penso que o ponto principal é a questão salarial", pondera.
O sindicalista avalia ainda que professores bem remunerados têm mais tempo e motivação para evoluir em boas práticas pedagógicas. "Além disso, é preciso ampliar a rede pública de qualidade para que a população não fique refém de escolas particulares de qualidade duvidosa”, enumera.
Para se ter uma idéia, enquanto alguns professores de maior sucesso da rede particular de ensino médio conseguem no Rio salários mensais de até R$ 10 mil, a remuneração inicial de um professor na rede estadual, de acordo com a Secretaria de Educação do Rio de Janeiro, é de R$ 754 mensais para uma carga horária de 16 horas semanais. Segundo a secretária Tereza Porto, um problema ainda mais grave que os baixos salários é a falta de profissionais qualificados: “Persistem deficiências em disciplinas como química, física e filosofia, por exemplo”, lamenta.