Através desta charge é possível refletir o processo de normatização e patologização das diferenças que ocorre na educação, em que as crianças são rigidamente rotuladas e marginalizadas muitas das vezes por causa de suas características singulares. Avaliamos e julgamos essas crianças de acordo com os nossos parâmetros pessoais, como se realmente houvesse um modelo daquilo que é “normal”. Este mal que assola a educação não é um processo isolado, mas é constituído pela lógica excessivamente médica que se instaurou na cultura de nossa sociedade: o que é diferente ou foge à norma é visto como patológico e precisa ser tratado.
A sociedade reforça tais atitudes estabelecendo, ainda que implicitamente, padrões ideais: o aluno ideal, a família ideal, o profissional ideal, etc. E afinal, eles existem? Onde e de acordo com quem? No ideal de perfeição, as diferenças são cruelmente tolhidas, transformadas em transtornos ou utilizadas como a matéria-prima para o bullying. Famílias e educadores lidam com as crianças como se os pequeninos fossem uma massinha de modelar e o molde perfeito fosse o nosso.
Uma criança que não é compreendida em sua singularidade tem seus potenciais reprimidos, pois é desvalorizada no reconhecimento de suas capacidades e limitações pessoais. Não ignoramos a necessidade de tratamento para problemas, sejam eles emocionais ou físicos, desde que estes sejam reais, no sentido de que são válidos no sofrimento próprio da criança, como os problemas neurológicos, deficiências das mais diversas ou transtornos emocionais. O que se deve refutar é a lógica de se tornar patológico aquilo que é apenas singular. Que seja o mais tímido ou o mais extrovertido, o mais hábil ou o mais lento, o organizado e o bagunçado... o importante é saber que diferenças existem e que são preciosidades, não doenças!
Por Stéfany Bruna