2.1 A Identificação( Parte 3)
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2.1 A Identificação( Parte 3)


2.1 A Identificação( Parte 3)


OU identificação, segundo Freud (1921), pode ter um caráter de dois valores desde o início, pois a criança pode ter um sentimento enorme de ternura, identificando-se com seu objeto amado; ou o contrário, identificando-se com quem ela não ama. Ocorre, nesses casos, que o ego copia parte desta pessoa que não é amada. Vale lembrar que nos dois casos a criança não se identifica por completo com o outro e sim só com um traço deste, ou seja, uma identificação parcial, o que ocorre de maneira diferente e patológica quando um indivíduo se identifica com o todo de outra pessoa, não formando desta forma um eu pessoal (FREUD, 1921).
Referente a esse aspecto, Nasio (1999) fala da identificação parcial, em que o indivíduo se identifica com traços visíveis do outro, incorporando a maneira de andar, passa a se comunicar através de gestos como a pessoa idealizada, ou até na vida adulta exerce, por exemplo, a profissão de seu pai, logo, há uma identificação inconsciente.
Para Laplanche e Pontalis (2001, p. 226), a identificação é o “processo psicológico pelo qual um sujeito assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente, segundo o modelo desse outro.” E, segundo Nasio (1999, p. 80), “um sujeito se identifica com alguém ou alguma coisa quando ele se confunde com esse alguém ou essa coisa […].”
Conforme Nasio (1999), essa identificação de querer ser o outro, de assimilar o outro, é um desejo inconsciente, podemos demonstrar em pequenos atos esta intenção, mas nem sempre nos damos conta disso, geralmente são as pessoas a nossa volta que têm esta observação. Desta forma, podemos citar o menino que, quando pequeno quer ser como o pai, a menina usa as roupas da mãe, o menino pega a mala de trabalho do pai, ou seja, eles querem incorporar traços visíveis da figura paterna, materna ou seus substitutos.
O sujeito pode identificar-se não só com a parte integrante do outro que seja visível, mas também “com as emoções, sentimentos, afetos, desejos e até fantasias, ocultas na vida interior desse outro.” (NASIO, 1999, p. 82).
Para que a identificação seja parte integrante e normal do desenvolvimento da criança, Bee (1997) sugere que, tanto o ambiente, quanto os cuidados passados para esta, sejam pertinentes a cada fase, e que satisfaçam às suas necessidades primordiais relevantes ao período em que está vivendo, mas estes cuidados não podem ser exagerados e nem diminutos. A criança necessita de um pai presente para que se identifique com este e de uma mãe que a proteja e que ao mesmo tempo não seja tão sedutora com a criança, ou seja, a mãe não deve disponibilizar um cuidado extremo para a criança, impondo, também, quando necessário, limites para sua formação.
Se este ambiente inicial for alterado, não haverá um processo nas condições normais para o desenvolvimento sadio da criança, o que fará com que a estrutura do indivíduo cresça com resíduos de problemas não resolvidos e necessidades que não foram totalmente satisfeitas.
Para explicar a importância dos sentimentos e comportamentos repassados para a criança no início de sua vida, Rappaport (1981a, p.32) cita:
Diante de sentimentos de inadequação, o sujeito internaliza características de alguém valorizado, passando a sentir-se como ele. A identificação é um processo necessário no início da vida, quando a criança está assimilando o mundo. Mas permanecer em identificações impede a aquisição de uma identidade própria. Para Nasio (1999), a identificação é um ato de amor, em que só vai ocorrer a identificação quando tiver um envolvimento entre as pessoas, uma ligação de amor. O autor cita uma história de intensa identificação entre pai e filho, que, após muitos anos, o filho deixa a agricultura para ser definitivamente um marinheiro, e subitamente seu pai o lembra de que, quando jovem, este era seu sonho e, sem saber disso, o filho, quando adulto, vai realizar inconscientemente um sonho que era da infância de seu pai.
Segundo Rappaport (1981b), a identificação pode ser evolutiva, pois a criança vai adquirir em seu comportamento um valor de reforço secundário, sendo este a capacidade da criança auto-reforçar a repetir o comportamento do pai ou da mãe. Pode ocorrer também a identificação defensiva, quando a criança está sendo ensinada a viver em sociedade, e as exigências pessoais internas dos pais são passadas para o filho, a criança então forma sentimentos de punição, agressão, raiva, gerando um conflito interno e interiorizando estes padrões, formando, assim, um traço de caráter rígido.
O vínculo inicial com a mãe começa no processo de amamentação, com o seio e na incorporação do alimento na primeira mamada que é repassado pela mãe. Segundo Rappaport (1981a), é neste momento da incorporação, em que as simbolizações ainda não existem, que a criança sente ter a mãe dentro de si. Como há uma falta de simbolização, a criança precisa de algo que seja concreto para que ocorra a incorporação e assim sucessivamente ocorra a identificação que, neste caso, será o leite e o seio da mãe.
Para Freud (1921), os primeiros objetos sexuais da criança são as pessoas que as alimentam e que as cuidam, logo será sua mãe ou quem a substitua. Este tipo de relação é chamado de anaclítico ou de ligação, ocorre no primeiro momento em que a criança investe sua energia libidinal no objeto e não no ego.
Para Costa (2007), a identificação é a expressão de um laço emocional com o objeto identificado. A pessoa se identifica com características que se tornaram importantes para ela. Estas identificações podem ser projetivas, quando nos identificamos ou projetamos algo no outro que são questões nossas; e podem ser introjetivas, quando adquirimos algo do outro que valorizamos muito, sendo assim duas formas de usar o objeto que amamos.
Segundo Nasio (1999, p. 83):
A identificação é o movimento ativo e inconsciente de um sujeito, isto é, o desejo inconsciente de um sujeito apropriar-se dos sentimentos e fantasias inconscientes do outro. Essa definição, traduz bem, as turbulências e os movimentos muito vivos das forças íntimas que circulam entre dois seres e os aproximam sem que eles saibam.
Em sua definição acerca da identificação, Nasio (1999) diz que esta age no inconsciente do indivíduo sem que ele mesmo perceba que está acontecendo quando se identifica com alguém, o que mostra a força que este mecanismo tem, fazendo ligações na vida do indivíduo sem o seu conhecimento consciente dos fatos.
Segundo Freud (1914), ocorrem processos diferentes em relação ao homem e à mulher no processo de escolha do objeto. Para o autor, o amor objetal é propriamente masculino, pois a libido é sempre masculina e sempre ativa. O primeiro objeto de amor será a mãe a quem ele irá investir sua libido.
Para o gênero feminino, Freud (1914) diz que, na puberdade, o desenvolvimento dos órgãos genitais intensifica o próprio narcisismo da criança, quando ocorre um super investimento de energia libidinal, que é até prejudicial depois para um desenvolvimento normal e uma escolha de objeto sadio na vida adulta da menina, visto que, na maioria das vezes, essas mulheres futuramente vão amar com muita intensidade a si mesmas e, quando houver escolha de parceiro, seu interesse maior será no amor que estes dedicarão a elas. Assim estas não darão ao homem a mesma intensidade de amor, mais tarde a escolha de objeto desta mulher poderá ser uma escolha narcísica ou de ligação.
Esta escolha de amar o outro seguindo o tipo narcísico é encontrar no outro ela mesma, ou o que ela foi um dia ou o que ela gostaria de ser, buscando um ideal de ego idealizado no outro, o que pode acarretar em uma identificação patológica. No tipo de escolha de objeto de ligação, o indivíduo poderá procurar por alguém que o alimentou ou protegeu na sua infância, sua mãe, seu pai, ou os seus respectivos substitutos (FREUD, 1914).
Parte 3



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