Na abertura do curso “O Magistrado e a Mídia”, realizado hoje e amanhã (26 e 26/09) na Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados Ministro Sálvio de Figueiredo (Enfam), a ministra Eliana Calmon, diretora-geral da Escola, afirmou que já foi “salva” pela mídia. Ela explicou que quando foi Corredora Nacional de Justiça, foi com o apoio dos meios de comunicação que ela conseguiu vencer o corporativismo no Judiciário.
“A maioria dos juízes é muito honesta e esforçada, mas ainda têm uma cultura muito fechada. Quando as ações da corregedoria começaram a ser divulgadas, muitos se sentiram expostos e desconfortáveis. Alguns quiseram que irregularidades fossem resolvidas nos bastidores, como ocorria antes”, destacou. Para a ministra, isso não funciona mais, pois, com a liberdade de expressão, os erros sempre vêm à tona. “Apontar os maus juízes, que felizmente são a minoria, e tomar providências contra eles, é algo que melhora a imagem da Justiça”, disse.
O curso “O Magistrado e Mídia” é uma iniciativa da Enfam para melhorar a interação entre a magistratura e os meios de comunicação. Nesta primeira edição foram reunidos 20 juízes do Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e Piauí, que passarão por treinamento teórico e prático de como lidar com os meios de comunicação. A ministra Eliana Calmon apontou que esses primeiros participantes serão os “arautos para uma maior abertura dos tribunais para a imprensa”. Para ela, a Justiça deve se abrir mais a críticas e estar pronta prestar esclarecimentos para a sociedade.
Ainda na abertura do evento, o jornalista Rodrigo Haidar, que cobre o Judiciário há quase 20 anos, destacou que muitas vezes os juízes não sabe o básico de como lidar com jornalistas. “Vimos um grande aumento na procura da Justiça. Entre 2002 e 2012, por exemplo, as ações do STJ subiram de 155 mil para 289 mil. Isso coloca os holofotes no Judiciário”, observou. O jornalista também apontou que todos os temas relevantes para sociedade acabam passando pelos tribunais, como a Lei Seca, a união homoafetiva e outras. “Há uma demanda de informação e o jornalista vai atrás disso”, reforçou.
Para Haidar, juízes e jornalistas são “animais” diferentes, que tem linguagens diferentes e necessidades diferentes. “O juiz não entende a urgência do jornalista, que tem um editor nos seus calcanhares, cobrando a matéria”, disse. Ele salientou que é preciso romper barreiras e garantir que os jornalistas compreendam o que está ocorrendo. “Temos que vencer o ‘dilema Tostines’: o jornalista erra porque o juiz não fala com ele ou o juiz não fala com o jornalista porque ele erra”, completou.
Fechando o primeiro ciclo de debates, o desembargador Mairan Maia, do TRF da 3ª Região, destacou que é a imprensa que torna os fatos importantes para a população “Já passei por vários problemas para me comunicar com a mídia. Mas entendi rápido a importância para a sociedade de que os magistrados sejam claros”, opinou. O desembargador também declarou que o magistrado deve ter em mente que não deve falar como se estivesse escrevendo uma sentença, mas manter a essência da mensagem.