Consumada a demissão de Romero Jucá (PMDB-RR) do governo após a divulgação degravações a mostrá-lo em aparente conspiração contra a Operação Lava Jato, o presidente interino Michel Temer reuniu no Palácio do Jaburu alguns aliados. Entre eles, outro investigado, o ministro do Turismo, Henrique Alves. Temer quis saber se não era melhor ele deixar o cargo antes de virar alvo de um bombardeio político e midiático. Alves deu de ombros. Seria “irrelevante” o que existe contra ele.
Não é a opinião do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, responsável por investigar perante o Supremo Tribunal Federal (STF) políticos detentores de foro privilegiado. Para Janot, há “indícios bastante seguros” da participação de Alves na corrupção descoberta pela Lava Jato.
A expressão foi usada por Janot em um pedido enviado no início de maio ao STF, no qual ele requer a ampliação da lista de investigados daquele que, pela quantidade de políticos incluídos, é o maior inquérito da Lava Jato, o 3.989, aberto em março de 2015. O ministro do Turismo é um dos citados entre aqueles contra os quais existem “indícios bastante seguros”.
Ex-deputado, Alves é ligado ao deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a ponto de ter passado o bastão a ele tanto na liderança do PMDB na Câmara, em 2013, quanto no comando da Câmara, em 2015. Por causa do vínculo, o ministro é citado em outro inquérito recém-aberto pelo STF.
É o 4.207, de março. Nasceu da delação premiada dos empreiteiros Ricardo Pernambuco e seu filho Junior. Eles alegam que a construtora da família, a Carioca, teve de pagar propina a políticos para conseguir tomar empréstimo da perna “fundo de investimento” do FGTS e assim tocar as obras do Porto Maravilha, no Rio.
Cunha tinha um apadrinhado, Fabio Cleto, na diretoria da Caixa Econômica Federal, órgão gestor do FGTS, por meio do qual podia atrapalhar a concessão de financiamentos. Entre os políticos contemplados com propina pela Carioca em troca do empréstimo estaria Henrique Alves.
A propina, segundo a família Pernambuco, foi disfarçada de doação oficial à campanha de Alves ao governo do Rio Grande do Norte na eleição de 2014. Na ocasião, o peemedebista recebeu 400 mil reais da empreiteira, em duas parcelas, uma de 300 mil, outra de 100 mil.
O inquérito está com o ministro do STF Teori Zavascki. Alves é citado nele, mas não está na condição de investigado.
Os advogados de Cunha tentam tirar o caso das mãos de Zavascki e transferi-lo a outro relator, sob o argumento de que o assunto não tem relação com a Petrobras, foco original da Lava Jato. No pedido, dizem que é “fantasioso” o suposto pedido de Cunha de doações eleitorais da Carioca a Henrique Alves.
O ministro do Turismo aparece junto com Cunha em um outro inquérito solicitado pelo procurador-geral ao STF, um pedido até agora sob segredo de Justiça, segundo a Folha de S. Paulo. Refere-se a mais uma história do tipo propina camuflada de doação. Neste caso, da empreiteira OAS.
Mensagens trocadas por celular entre Cunha e um ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro, indicam que o peemedebista pressionou a construtora para que desse dinheiro a Alves na campanha de 2014. O então candidato recebeu 650 mil reais da empresa, em três parcelas.
Entre as mensagens apreendidas nas apurações da Lava Jato, Pinheiro escreveu: “Eduardo Cunha é o grande articulador de Henrique Alves”.
Ao deixar o ministério do Planejamento, Romero Jucá manteve o direito de ser investigado no STF, já que tem mandato de senador por Roraima até 2018. Já Henrique Alves, se sair do Turismo, será investigado pelo juiz Sergio Moro, em Curitiba, pois não tem mais mandato.
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