Decisão do presidente em exercício Michel Temer de manter aliados do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) nos postos de comando da Câmara fortaleceu o parlamentar
A decisão do presidente em exercício Michel Temer de manter aliados do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) nos postos de comando da Câmara fortaleceu o parlamentar. A avaliação no Congresso é de que a confirmação nesta quarta-feira (18) do deputado André Moura (PSC-SE) como líder do governo, a permanência de Waldir Maranhão (PP-MA) na presidência da Casa e as recentes mudanças de integrantes do Conselho de Ética ampliaram as chances de Cunha escapar da cassação do mandato.
Moura foi confirmado líder do governo na quarta. Trata-se do principal cargo da Câmara, depois da presidência, por fazer a interlocução direta entre o Executivo e a Casa. A decisão de Temer foi um claro aceno ao centrão, bloco idealizado por Cunha formado por 225 deputados de 13 partidos. A alternativa era Rodrigo Maia (DEM-RJ), que era apoiado pelas legendas que faziam oposição ao governo Dilma Rousseff. Além do apoio majoritário dos deputados, a escolha de Temer foi influenciada pelo aval de Cunha.
Após a nomeação, Moura minimizou a relação com o peemedebista e disse que ele não terá "influência nenhuma" em sua atuação. "Quero dizer que estou aqui nesta Casa há seis anos e durante esse período construí um bom relacionamento com várias pessoas. O trabalho que fizemos durante o impeachment foi fundamental para obter os votos necessários para a aprovação do processo na Câmara, isso permitiu que eu tivesse o apoio de 13 partidos."
Nesses primeiros dias de governo Temer, porém, o centrão já começou a operar para tirar do Conselho de Ética parlamentares que vinham, após decisão do Supremo Tribunal Federal, hesitando em votar a favor de Cunha. Em dois dias, três parlamentares renunciaram à vaga. Cacá Leão (PP-BA) – que no primeiro momento era favorável ao peemedebista – abandonou o colegiado alegando desgaste em seu Estado ao se manter ao lado do peemedebista. Ele foi substituído por André Fufuca (PP-MA), voto garantido ao peemedebista.
Outro a deixar o colegiado na quarta-feira foi Erivelton Santana (PEN-BA), alegando que a vaga é do PSC. Caberá ao partido de Moura escolher o substituto.
Do grupo que deixou o colegiado só Ricardo Barros (PP-PR) não renunciou por pressão – ele virou ministro da Saúde. O substituto é Nelson Meurer (PP-PR), que tende a votar favoravelmente ao peemedebista.
Tutela
A opção de Temer de avalizar a decisão da Casa de manter Maranhão sob tutela do centrão também tende a ajudar Cunha. O motivo é que caberá ao presidente interino colocar em pauta a votação do processo e definir qual recurso da decisão do Conselho de Ética poderá ser submetido ao plenário.
"A verdade é que Cunha continua operando na Casa e agora dentro do governo. Michel Temer está refém de Eduardo Cunha", disse o vice-líder do PSOL, Chico Alencar (RJ). PSOL e Rede são autores da representação contra Cunha no conselho. "Minha sensação é que com o governo Temer, o poder de Eduardo Cunha aumentou consideravelmente, com aliados em postos-chave e mantendo o poder sobre a Casa", avaliou o líder da Rede, Alessandro Molon (RJ).
As movimentações na Casa e no conselho fizeram com que o grupo que defende a cassação de Cunha começasse a fazer contas e a considerar um cenário de derrota do parecer de Marcos Rogério (DEM-RO). Apesar disso, o voto da deputada Tia Eron (PRB-BA) continua sendo crucial para o destino de Cunha.
Se o colegiado votar pela cassação, o peemedebista tem dois recursos contestando o processo para serem julgados na Comissão de Constituição e Justiça e poderá apresentar novos pedidos. Na CCJ, Cunha terá a colaboração do colega Osmar Serraglio (PMDB-PR) para dar celeridade às suas demandas.
Cunha depõe nesta quinta-feira (18) no colegiado cercado de aliados e com a promessa de fazer um discurso de confronto direto. Para comportar a demanda, foi reservada uma sala maior e a sessão no plenário foi cancelada.