Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - Extraoficialmente apelidado de Frente Ordem e Progresso, em referência ao slogan da gestão do presidente interino Michel Temer e formado por 13 partidos e mais de 200 deputados, o centrão constitui uma base forte de sustentação ao governo na Câmara, mostra a contínua força do presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e pode fazer o Executivo de refém.
Oficializado nesta semana, o bloco conta com a participação dos mesmos partidos que integravam a base da presidente Dilma Rousseff, afastada por até 180 dias para responder a um processo de impeachment. Foram decisivos para imprimir derrotas à petista na Câmara, incluindo a própria aprovação da abertura do impeachment.
"O nosso objetivo é ser um conjunto de força política com agenda própria, garantindo a governabilidade do governo, mas com pensamento propositivo, não somente reativo ou passivo", disse o deputado Rogério Rosso (DF), líder do PSD, à Reuters.
Formado pelo PP, PR, PSD, PRB, PSC, PTB, SD, PHS, PROS, PSL, PTN, PEN e PTdoB, o centrão evidencia, na opinião do líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), o poderio que Eduardo Cunha ainda exerce na Casa.
"Esse bloco é liderado por Eduardo Cunha, que é aliado de Michel Temer... tanto que a liderança do governo é dedicada a André Moura, um dos mais fiéis sócios de Eduardo Cunha", disse o líder petista à Reuters, referindo-se à indicação do deputado André Moura (PSC-SE) para a liderança do governo na Câmara.
O nome foi sugerido a Temer pelo centrão. O presidente interino, na chefia do Executivo há pouco mais de uma semana, não simpatizava com a ideia de nomear como representante do governo um parlamentar dos mais próximos a Cunha e com uma ficha corrida que inclui seis inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) --de apropriação indébita à acusação de tentativa de homicídio– e investigações na operação Lava Jato por corrupção ativa, passiva e formação de quadrilha.
Temer teve de ceder, no entanto, à explícita e necessária maioria numérica que o bloco representa, e indicou Moura para a liderança do governo na Câmara. O governo precisará da numerosa frente se quiser aprovar as medidas que considera prioritárias, como a alteração da meta do resultado fiscal e uma planejada reforma da Previdência.
A disputa pela nomeação de líder do governo, aliás, denotou que apesar de alinhados ao governo, os parlamentares que compõem o bloco têm demandas.
Antes mesmo de Temer assumir a Presidência, poucos dias após a aprovação da admissibilidade do impeachment de Dilma na Câmara, representantes do grupo já mostravam a que vieram e diziam a Temer e a seus auxiliares: acordos firmados teriam de ser cumpridos e a disposição de cargos teria de refletir a correlação de forças desenhada no Parlamento.
"Quem ganhou foi Eduardo Cunha", acusou Florence. "Esse governo tem a cara de Eduardo Cunha. Temer está na mão dele."
Cunha, em contrapartida, afirmou na última quinta-feira, em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, onde responde a um processo de cassação, que não indicou "um alfinete" para o governo. E que se assim tivesse feito, não estaria implicado em nenhum delito, porque não está suspenso pelo STF de "falar com as pessoas" ou exercer sua "militância partidária".
Para o deputado Henrique Fontana (PT-RS), que já liderou a bancada governista no primeiro mandato de Dilma, a influência de Cunha no governo é "bem maior que um alfinete".
"O Eduardo Cunha dizer que a influência dele é menor que um alfinete é a piada do ano", afirmou.
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