Erro de avaliação da esquerda elege aliado de Cunha e golpe se consolida
Aprendizado

Erro de avaliação da esquerda elege aliado de Cunha e golpe se consolida


Erro de avaliação da esquerda elege aliado de Cunha e golpe se consolida

Fora a retirada dos parlamentares do PSOL; além das ausências de Jandira Feghali (PCdoB/RJ) e Wadih Damous (PT/RJ), a eleição do nome de ultradireita, que apoia o golpe, contou com apoio integral das legendas de esquerda

Por Redação – de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo
Apenas algumas horas após a eleição do deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ) à Presidência da Câmara, líderes e militantes dos partidos de esquerda perceberam a dimensão do erro cometido ao apoiar um dos mais notórios defensores das medidas de sequestro dos direitos sociais, determinadas pela equipe econômica do golpe de Estado que se consolida. Iludidos com a possibilidade, inexistente, de Maia oferecer qualquer concessão ao campo progressista, alguns deputados chegaram a entoar o mantra “Fora, Temer!”, em seguida ao anúncio do resultado, como se Maia não fosse aliado de primeira hora tanto do dirigente golpista quanto do seu mentor, o deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ). A claque parlamentar foi rapidamente desautorizada:
— Ajudei a eleger Cunha contra um candidato do PT. No plenário talvez ele tenha sido o melhor presidente que tivemos. Teve méritos. Não sou daqueles que só pisa — disse o novo presidente da Câmara, eleito com 285 votos, contra 170 de Rogério Rosso (PSD-DF), em segundo turno.
Rodrigo Maia, eleito pela extrema direita, contou com os votos da esquerda
Rodrigo Maia, eleito pela extrema direita, contou com os votos da esquerda
Fora a retirada dos parlamentares do PSOL, que lançou a candidatura da ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina, obteve 22 votos e abriu caminho para a vitória da extrema direita; além das ausências de Jandira Feghali (PCdoB/RJ) e Wadih Damous (PT/RJ), em protesto contra os erros, em série, a eleição Maia contou com o apoio integral das legendas de orientação socialista. No primeiro turno, o Maia obteve 120 votos, contra 106 de Rosso. O candidato que teve o apoio do PT no primeiro turno, Marcelo Castro (PMDB-PI), ficou em terceiro, com 70 votos.
Durante a tarde, na véspera da votação, deputados do PT e do PCdoB estiveram reunidos, no gabinete da Liderança da Minoria da Câmara (integrada por todos partidos que fazem oposição a Michel Temer) mas não chegaram a um consenso quanto ao apoio a um candidato para a Presidência da Casa. Ali começou a derrota. Para o líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), a ideia era superar “o candidato do Eduardo Cunha”, referindo-se ao deputado Rogério Rosso.
— Defendo uma lógica de funcionamento total desta Casa, para limparmos de vez toda essa sujeira deixada pelo Eduardo Cunha. Não podemos e não vamos com qualquer nome que seja apoiado pelo Eduardo Cunha — acreditava o parlamentar baiano, fazendo vista grossa para a origem de Maia, a quem apoiariam no ato seguinte.
Florence acreditava que a candidatura de Castro — ligado à direita mas contrário ao golpe de Estado que afastou a presidenta Dilma Rousseff — seria forte o suficiente para chegar ao segundo turno das eleições na Câmara e até vencer o oponente. Não poderia estar mais enganado.
— Temos que ganhar a política. Não basta só lançar nomes para marcar posição, mas vencer a eleição — apregoava o líder petista, já sob os protestos de Jandira e Damous.

Cunha, a esquerda e o golpe consolidado

“Adeus, Pré-Sal. Adeus, direitos trabalhistas. Adeus, SUS. Adeus, Direitos Humanos. Aguardem as 80 horas semanais. Deem as boas vindas ao obscurantismo e às trevas na política brasileira. É isso que aguarda o país nessa eleição à Presidência da Câmara. À esquerda, fragmentada em egos imensos, resta chorar o fel derramado sobre os livros de História”, comentou o jornalista Gilberto de Souza, editor-chefe do Correio do Brasil, em uma rede social, instantes após o anúncio dos nomes que iriam ao segundo turno da eleição na Câmara dos Deputados.
Aquele momento, minutos antes de Maia aditivar sua candidatura com os 165 votos extras, o jornalista Breno Altman, diretor editorial do site Opera Mundi, descreve como a gênese do erro estratégico, em artigo intitulado: Esquerda vive dia de infâmia.
“Do sectarismo eleitoreiro do PSOL ao cretinismo parlamentar que contamina PT e PCdoB, o que assistimos ontem na Câmara dos Deputados foi a liquefação do campo antigolpista, abrindo caminho para a substituição do centro fisiológico pela direita orgânica no comando do parlamento”, escreveu Altman.
“Era razoável o objetivo tático de construir uma candidatura que unificasse todos os que votaram contra o golpe parlamentar em 17 de abril, uns 140 deputados. Aliás, a soma dos votos de Marcelo Castro, Luiza Erundina e Orlando Silva teria colocado um nome dessa coalizão para disputar o comando da casa contra Rodrigo Maia (DEM-RJ), suplantando a colheita eleitoral de Rogério Rosso na primeira volta (108 contra 106 votos)”, constata.
Ainda segundo a análise de Altman, “parte da bancada do PCdoB e do PT se atirou nos braços de Rodrigo Maia em troca de migalhas e promessas corporativas, virando de costas para as ruas e abandonando a centralidade da luta contra o golpe às vésperas do julgamento definitivo da presidente Dilma Rousseff pelo Senado”.
Altman também cita, em seu texto, o trecho do discurso de Maia que demonstrou, claramente, o suporte dos parlamentares do campo progressista à candidatura ultraconservadora. “Os agradecimentos do candidato vitorioso a Orlando Silva (PCdoB/SP) não foram imerecidos e deveriam ser estendidos a muitos deputados do PT, apesar da posição em contrário de sua direção e vários integrantes da bancada”, lembrou.
O PSOL, continua o jornalista e militante do PT, “inventou a tática da anticanditatura com os olhos postos nas eleições de São Paulo e no desgaste do PT, pouco se lixando para a luta contra o governo golpista, que lhe serve apenas de trampolim para ter um discurso sensível aos eleitores tradicionais do PT”. Para o articulista, “a confusão no campo progressista, alimentada por oportunismo de direita e de esquerda, terminou por limar qualquer capacidade de atração do centro democrático, formado pelos parlamentares que votaram contra o impeachment”.
“A esquerda nem sequer teve a dignidade e o tirocínio de se retirar do plenário, de forma unitária, deixando claro que se recusava a votar em qualquer candidato que tivesse apoiado o impeachment. Apenas o PSOL e parte dos deputados petistas, além da combativa Jandira Feghalli (PCdoB-RJ), tiveram essa lucidez política”, acrescentou.
Militante do PT no Estado do Rio de Janeiro, Val Carvalho é uma das vozes mais influentes na legenda. Em comentário publicado em sua página, em uma rede social, Carvalho segue na mesma linha:
“A vitória de Rodrigo Maia, do DEM, representa a direita ideológica na Presidência da Câmara. Na Presidência da República, Temer, é a direita fisiológica, aquela que serve a qualquer senhor. O partido de Rodrigo Maia, o DEM, é filho do PFL e neto da Arena/PDS, o partido criado pela ditadura militar”, lembra.
Ainda segundo Carvalho, “com a versão neoliberal radical assumida pelo DEM, Rodrigo Mais vai garantir a aprovação da agenda neoliberal na Câmara, que pode ser resumida pelo seguinte: extinção dos direitos trabalhistas e sociais, privatização, entrega do pré-sal e de outras riquezas nacionais e poder total do mercado sobre a economia. É o Estado mínimo para os pobres, e Estado máximo para os ricos”.
Um dos principais defensores da volta de Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto, o senador Lindbergh Farias também registrou seu desapontamento:

- Maia Encaminha Representação Contra Jean Wyllys Ao Conselho De Ética
Maia encaminha representação contra Jean Wyllys ao Conselho de ÉticaEntre seis queixas que deputado deverá responder, estão as de Jair Bolsonaro e Alexandre FrotaMaia encaminha representação contra Jean Wyllys ao Conselho de Ética | Foto: Wilson...

- Cunha Diz A Aliados Que Foi Abandonado E Traído Por Temer
A falta de respaldo do presidente interino, Michel Temer, à candidatura de Rogério Rosso (PSD-DF) na reta final da disputa pelo comando da Câmara causou fúria no ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e no “centrão”, bloco que agrega partidos...

- Indicação De Líder Do Governo Amplia Chances De Cunha Escapar De Cassação
Indicação de líder do governo amplia chances de Cunha escapar de cassaçãoPor Estadão Conteúdo | 19/05/2016 09:45COMPARTILHETamanho do textoDecisão do presidente em exercício Michel Temer de manter aliados do deputado afastado Eduardo...

- Frente Parlamentar E Ação No Stf Prometem Barrar Golpe De Estado
Frente parlamentar e ação no STF prometem barrar golpe de Estado Os parlamentares signatários do documento, comprometem-se com o voto contra o golpe de Estado, em curso. Mas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, articulador da Frente, quer um...

- Jandira Feghali Diz Que Chances Do Governo Contra O Impeachment Aumentaram
Jandira Feghali diz que chances do governo contra o impeachment aumentaramDeputada integrante da comissão especial acredita que articulação centrada em Temer está "fazendo água"Jandira Feghali diz que chances do governo contra o impeachment aumentaram...



Aprendizado








.