A ira contra a política vai nos levar aonde?
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A ira contra a política vai nos levar aonde?




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Que a política como está na atualidade é rejeitada pelos brasileiros não é novidade. Que a culpa disso cabe aos políticos, também não. Mas até onde  vai esta (verdadeira) ira e quais as consequências? É impossível conversar com qualquer pessoa sobre política sem com que apareça, ato contínuo, a palavra corrupção. As duas palavras viraram como que sinônimos. Pagaremos um preço alto por nisso. Ainda mais que, em breve, milhões de brasileiros irão às urnas de novo, desta vez para as eleições municipais – com qual capacidade de enxergar?
O problema não é apenas o custo, evidente, da corrupção. E cada vez mais o brasileiro associa a corrupção a isto: prejuízo direto no bolso. Nem sempre foi assim. Já não é mais o “rouba mas faz” do passado, mas o “rouba e não faz”. Cada vez mais – e isto transparece em diferentes grupos de pesquisas qualitativas – o cidadão se entende como consumidor de serviços e pagador de impostos. A corrupção é uma quebra disso. É uma forma de desvio de recursos que afeta diretamente o cotidiano de quem usa os serviços públicos. E mais do que isso. Nos últimos tempos se cristalizou a percepção de que a corrupção é a responsável direta pela piora de vida em geral: os preços altos, a queda de renda. Qualquer um que caia na rede, culpado ou não, inocente ou não, irá direto se balançar no trapézio de um circo em chamas.
Ademais, qualquer explicação outra para a crise que afeta o bolso soa como blá-blá-blá para uma população que aparenta, com justa razão, estar no limite de sua paciência. Parte do nó é que aqueles que poderiam oferecer um caminho qualquer, um projeto qualquer, uma análise mais completa qualquer – o que nos tempos de antanho se chamavam lideranças políticas ou estadistas – parecem estar em falta no Brasil. Ninguém do chamado mundo político empolga ou pior: ninguém parece acumular credibilidade para tanto. Além disso, a corrupção como espetáculo oferece aquilo que a opinião pública parece desejar: corpos ardendo na fogueira. Não à toa, segundo as pesquisas recentes, entre as figuras nacionais que amealham simpatia popular não estão políticos – estes rejeitados – mas as do juiz Moro e do ex-juiz Joaquim Barbosa. São as nossas referências de esperança que reverberam a ideia do salvador – como Dom Sebastião, e conforme este arraigado mito popular brasileiro e português, que descerá das nuvens brandindo a espada da Justiça Divina.
Mas, infelizmente, nada é simples. A descrença não é fenômeno apenas brasileiro. O resultado do referendo que tirou a Inglaterra da União Europeia teve um forte sentido antiestablishment. Não foi um voto apenas contra a imigração. Pesou o sentimento antisistema: contra os bancos, contra os “especialistas”, contra os partidos tradicionais. Foi uma vitória do senso comum do homem comum como definiu a revista The Economist – ou da “little people” como gosta de dizer o líder da direita britânica, Nigel Farage, do UKIP. Também nos EUA a candidatura do republicano Trump representa em parte a rejeição generalizada – no caso, a “este pessoal de Washington”. Lembrando que se 66% dos americanos rejeitam Trump, outros 54% rejeitam sua virtual adversária, Hillary. Mas tanto Trump como Farage fazem da política institucional uma cena de deboche. Em discurso recente no parlamento europeu, Farage disse aquilo que o cidadão comum quer ouvir: vocês políticos que aqui estão, nunca trabalharam, não é verdade? – diante de um plenário que ria de escárnio, lhe virava as costas, abandonava seus assentos. Uma cena de desagregação.

https://br.noticias.yahoo.com/a-ira-contra-a-política-vai-nos-levar-aonde-194223631.html



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