A bandeira da antecipação da eleição presidencial, que vem ganhando visibilidade com as manifestações de Fora Temer!, encontra respaldo na opinião pública. A maioria dos brasileiros, conforme indicaram seguidas pesquisas desde o início do ano, acredita que eleições seriam a melhor saída para a crise política. Foi no passado recente expressão do ‘nem Dilma, nem Temer’. Agora, a mesma opinião pública que foi favorável ao impeachment da presidente e ainda à cassação de Eduardo Cunha, parece ver nas eleições antecipadas uma luz no fim do túnel. Terá seu desejo atendido?
Seria bom que as lideranças que defendem eleições diretas já! pudessem apresentar ao público em geral os caminhos para tanto, pois até aqui estes parecem enviesados. Dilma antes de ser afastada acenou com a proposta vaga de um referendo, naquele momento rechaçado pelo PT, que agora mudou de postura. Mas como chegar em eleições antecipadas? Cassando a própria chapa Dilma-Temer no TSE até o final do ano, pois depois disso caberia a escolha do próximo presidente ao Congresso? O PT apoiaria isto, respaldando assim sua autocassação? Aguardando uma (altamente) improvável renúncia de Temer? Não é nada certo que humores de opinião pública e as ruas – e apenas elas – criarão o fato consumado de novas eleições.
O foco agora é Temer. Saído dos bastidores para a ribalta, vai imprimindo seu estilo quase anônimo de presidência. Desconhecido até pouco tempo atrás por um em cada três brasileiros. Um presidente que não usa a faixa presidencial no 7 de setembro e compra às escondidas sapatos chineses na China em vez de valorizar as marcas nacionais. Que parece, cada vez mais, querer passar a imagem de homem simples, gente como a gente – um presidente que não é presidente. Que está lá quase que sem querer querendo. Até porque sabe que qualquer político que se sobressaia atrairá a ira em tempos de fúria antipolítica.
Seja como for, Temer tem na melhora da economia sua bala de prata contra a impopularidade. Depende disso mais do que da política, esta já naturalmente esgarçada e que (e se) se salvará por osmose sabe-se lá como. Pilotada por Temer a nau Brasil segue seu rumo, agora que os primeiros tambores começam a rufar nas encruzilhadas. Aos poucos, me parece, o brasileiro vai entendendo que a mudança de governo significa também uma mudança de rota. E aguarda por melhoras – e rápido. Os sinais de quando e se estas virão, porém, não são evidentes.
“Estes políticos roubaram e agora querem mudar a minha aposentadoria”. Ouvi a frase na fila de inscrição para a escola pública do bairro na zona sul do Rio de Janeiro. Era pouco antes das oito da manhã e sete mulheres e um homem aguardavam a abertura do guichê, além deste jornalista. A frase dita espontaneamente por uma das mães, que começava a enervar-se com um possível atraso no atendimento do funcionário da escola (o que não aconteceu), me fez pensar sobre os dilemas brasileiros. E de fato: como um presidente que não tem o respaldo de um programa aprovado pelas urnas – não foi em reforma da Previdência Social e redução de gastos públicos que o eleitor votou em 2014 – e aliado a uma classe política absolutamente desacreditada, poderá levar adiante as tais ‘reformas estruturantes’ na economia, espécie de razão de ser do atual governo?
Pode-se até concordar com a necessidade de se rever a idade mínima de aposentadoria, mas quando isto é feito desde o alto por uma classe política percebida pela maioria da população como corrupta, tem-se um pepino. A mesma coisa vale para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241 que visa congelar (e no longo prazo reduzir) os gastos públicos. São medidas que afetarão diretamente a população. Não à toa, congressistas da chamada base do governo não querem nem ouvir falar disso até outubro, quando haverá as eleições municipais. Dificilmente aparecerá um candidato na TV para dizer que sim, é favorável a que os brasileiros trabalhem mais antes de se aposentar, que sim é favorável ao congelamento nos gastos com saúde e educação.
O desejo do chamado mercado é que estas medidas, e que visam a alterar a trajetória ascendente da dívida pública para o pagamento de juros, sejam aprovadas nos próximos meses. Ao mesmo tempo a população começa a ser informada a respeito do que se trata. Ninguém foi de fato consultado. A frase dita por uma das mães no guichê da escola foi como rastilho de pólvora. Em breve todos estavam falando mal dos políticos: “vou votar nulo, pelo menos não alimento bandido”, “já começaram a vaiar esse aí que entrou”, disse a mulher ao meu lado na fila referindo-se a Temer.
Com lideranças desacreditadas e sem melhoras palpáveis no bolso, será difícil convencer a população de que tudo que está sendo feito será para um Brasil melhor. Ordem e progresso para quem, afinal?
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Imagem: Rovena Rosa/AgênciaBrasil
https://br.noticias.yahoo.com/qual-o-futuro-do-fora-temer-160402161.html
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