Gravado em uma aparente conspiração contra a Operação Lava Jato e autor de explicações nada convincentes até aqui, o ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB), apoiou Aécio Neves (PSDB) na eleição de 2014, ainda que o PMDB tivesse um vice na chapa de Dilma Rousseff, e foi um ativo articulador do impeachment. Tudo isso mesmo tendo sido líder do governo Dilma no Senado em 2011.
Para Dilma, que conviveu de perto com ele naquele primeiro ano de mandato, Jucá é hoje uma espécie de Eduardo Cunha do Senado, referência ao presidente afastado da Câmara. Réu por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava Jato, o peemedebista Cunha sonha com o abafamento das investigações pelo governo provisório de Michel Temer.
“Ele [Cunha] segue dando as cartas, ele dá as cartas na Câmara, pro governo e de uma certa forma com suas infiltrações nos outros poderes, especificamente no Senado, através de outro senador, como o Jucá”, disse Dilma a CartaCapital em uma entrevista na quarta-feira 18.
Jucá tem motivo para temer o avanço da Lava Jato, do mesmo modo que Cunha, embora diga e repita ser favorável às apuracões. É um dos vários políticos investigados no Supremo Tribunal Federal (STF) em decorrência da operação.
Nesta segunda-feira 23, transcrições de uma conversa mantida por ele com outro investigado mostram o ministro simpático a um “pacto”, a partir da derrubada de Dilma e da ascensão de Michel Temer à Presidência, para conter o avanço da Lava Jato. Ele nega que fizesse referências à operação.
“Delimitava onde está, pronto”, diz Jucá em outro trecho da gravação. No fim da manhã desta segunda-feira 23, o ministro deu uma entrevista para se explicar. Afirmou “repelir” a interpretação dada aos diálogos gravados e que suas falas foram tiradas de contexto na reportagem da Folha de S. Paulo.
Explicação pouco convincente. As transcrições reproduzidas pelo jornal são longas o suficiente para permitir contextualizações, a ponto de um partido aliado do governo provisório, o DEM, já ter pedido a demissão de Jucá. “Não vejo motivo para eu pedir afastamento”, afirmou o ministro. Que no entanto admitiu: “É um incômodo ser investigado.”
O caso levou o presidente interino Michel Temer a adiar uma entrevista coletiva que daria ao lado de Jucá na tarde desta segunda-feira 23, no Palácio do Planalto.
Não é só por causa da Lava Jato que Jucá tem problemas na Justiça. Na sexta-feira 20, o STF autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do senador peemedebista em um inquérito aberto em 2004 para investigar se ele desviou dinheiro público por meio de emendas parlamentares incluídas no orçamento federal.
A Procuradoria Geral da República suspeita que Jucá tenha recebido dinheiro de uma licitação feita pela prefeitura de Cantá, em Roraima. O objeto da licitação era justamente uma obra para a qual Jucá garantiu verbas federais por meio de emenda parlamentar.
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