O projeto de irrigação foi considerado na época de sua construção como uma obra faraônica, pois para sua execução se juntaram iniciativas federais, estaduais e municipais. Mas o proejto acabou nas mãos da iniciativa privada. Segundo reportagem publicada na revista Veja, o Jaíba havia sido concebido para ser o maior projeto público de irrigação da América Latina. Pelos planos, deveria distribuir terras a 2.200 famílias, atrair mais 2.000 empresários rurais, produzir 2 milhões de toneladas de frutas e grãos por ano e gerar uma renda anual de quase US$ 1 bilhão. Ao contrário, em 1999, exibia números irrisórios, comparados com as metas originais.
A revista Veja relata que só a primeira de quatro etapas estava com infraestrutura, embora 80% dos recursos previstos já tivessem sido investidos lá.
O assentamento de cada família na área custou cerca de 300.000 dólares. Para Veja, se tratava de um desastre tão grande que, se em vez de fazer o projeto de irrigação o governo tivesse distribuído o dinheiro aos colonos, em 1999, cada família poderia ter um rendimento mensal de aproximadamente 6.000 reais numa caderneta de poupança.
Em outubro de 2009, no Seminário Internacional sobre o Desenvolvimento Regional do Nordeste, realizado em Recife (PE), o professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social da Universidade Estadual de Montes Claros-MG, Gilmar Ribeiro dos Santos, e o mestrando do mesmo curso, Ricardo dos Santos Silva, abordaram o Projeto Jaíba (“Os irrigantes do Projeto Jaíba: da produção de subsistência à agricultura moderna”). Mostraram que o Norte de Minas Gerais está no limite da Região Sudeste com o Nordeste do Brasil. Do ponto de vista econômico e social se aproxima mais do Nordeste que do Sudeste. Esta região foi incorporada ao mercado capitalista com a intervenção do Estado como agente indutor do desenvolvimento econômico regional a partir da criação da SUDENE, no final dos anos 1950.
De acordo com eles, o Projeto Jaíba, foi idealizado na perspectiva de se construir um grande projeto de irrigação que auxiliasse no desenvolvimento regional pautado pela redução das desigualdades sociais e regionais do Brasil. Na sua implantação o Regime Militar tentou criar ali um modelo baseado em grandes empresas agrícolas, posteriormente, os primeiros governos civis tentaram implantar um modelo de desenvolvimento rural baseado nos agricultores tipo farmer estadunidenses. Por fim, existe desde o final dos anos noventa, uma tentativa frustrada de se transferir totalmente a gestão do Projeto para os irrigantes.
Com a recriação da SUDENE coloca-se a indagação sobre qual o modelo de desenvolvimento será implantado a partir de então no Projeto Jaíba. Será possível resgatar o modelo de desenvolvimento regional calcado na perspectiva da redução das desigualdades sociais e regionais almejado por Celso Furtado? Os pesquisadores concluem que as famílias oriundas da agricultura tradicional foram assentadas sem um projeto de preparação para o trabalho consistente que levasse em consideração as mudanças ontológicas e não apenas gnosiológicas pelas quais precisariam passar ao assumirem a agricultura de mercado.
A produção de subsistência foi totalmente desarticulada e a maioria dos irrigantes resiste às mudanças necessárias para produzirem em bases capitalistas. Segundo eles, os agricultores pobres foram assentados no Projeto confiando em suas diretrizes de transformá-los em pequenos e prósperos capitalistas. A sociedade comprou a idéia de que ali estava se construindo uma nova etapa na agricultura familiar do País.
Segundo o Governo Federal os assentados seriam formados segundo o modelo do farmer estadunidense. Mas eles se tornaram trabalhadores expropriados pelo capital. Eles são trabalhadores para o capital, mas fora das relações capitalistas tradicionais. São submissos ao capital à medida que dependem do conhecimento científico, dos meios de produção, dos insumos, do financiamento e também do comércio para ecoar seus produtos. Em todas essas etapas, está presente o capital para expropriar valor de seu trabalho. Eles não são capitalistas nem tão pouco trabalhadores assalariados, mas produzem valor, são expropriados assim como os assalariados.
A transformação dos agricultores sertanejos em pequenos capitalistas não passa de discurso. Na verdade, eles estão sendo transformados em uma categoria social específica para produzir valor mediante relações não capitalistas, com a ajuda do Estado.
Os ensinamentos para as gerações de capitalistas são muito diferentes dos ensinamentos para a classe trabalhadora, mesmo que eles estejam no mesmo tempo e espaço.
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