Uma das grandes surpresas desse fim de ano foi a reaproximação entre Estados Unidos e Cuba, com a mediação do papa Francisco. O fato causou admiração, desconfiança e esperança em medidas quase idênticas, dependendo das inclinações político-religiosas de quem analisa o fato.
O embargo fracassou. Em que, especificamente?
Muitos veem a reaproximação como benéfica para Cuba, que vive uma crise financeira de longa data, que a chegada de turistas cheio de dólares ajudaria a remediar; outros desconfiam das intenções norte-americanas, quando o presidente Barack Obama alega que era preciso uma nova estratégia, porque o embargo havia claramente fracassado. Mas fracassado em que objetivos? O embargo sufocou a economia cubana, deixou o país caribenho atrasado pelo menos trinta anos em termos de desenvolvimento, e causou indiretamente todas as dificuldades para a população. A única coisa que o embargo realmente fracassou, foi em derrubar o regime comunista da ilha. Isso quer dizer que a mudança de estratégia visa alcançar justamente esse objetivo que o embargo não atingiu?
Quando há papas envolvidos, é bom desconfiar…
Já há especulações no ar. Alguns jornalistas já lembram que outro papa esteve envolvido em negociações secretas (e sujas) no passado para a derrubada de regimes comunistas. Trata-se do polonês Karol Wojtyla, o papa João Paulo II, em cuja biografia consta, segundo Sergio Caldieri, passagens nada dignas como a ajuda financeira da CIA para ajudar a derrubar governos no Leste Europeu:
Segundo o escritor Marco Politi, jornalista italiano especializado em assuntos do Vaticano, o general Vernon Walters, ex-diretor da CIA, foi o intermediário de 50 milhões de dólares para o papa João Paulo II destruir a Cortina de Ferro com suas hóstias verdinhas. O livro de Marco Politi é “Sua Santidade – João Paulo II e a história oculta de nosso tempo”, escrito em parceria com o famoso jornalista Carl Bernstein, do caso Watergate. Eles contaram que João Paulo II teve 15 encontros secretos com o general Vernon Walters e Willian Casey, então diretor da CIA
Para aqueles que andam preocupados, a filha do atual presidente cubano, Mariela Castro, já tratou de dissipar qualquer insinuação de que um golpe branco está a caminho. Segundo ela, Cuba não voltará a ser capitalista. Mas eu creio que a filha de Raúl Castro subestima o poder da propaganda ideológica capitalista. Essa mesma força que faz as pessoas abandonarem convicções políticas e substituírem-nas pelo desejo de consumo de porcarias industrializadas, além da ilusão de liberdade que já derrubou muros e destruiu governos no passado.
A influência da ideologia capitalista
Imaginem quando milhares de norte-americanos invadirem a ilha para passar suas férias. O contraste entre aqueles cidadãos de classe-média estadunidenses e os nativos cubanos seria gritante nesse momento. Levarão seus celulares de última geração, suas máquinas fotográficas de última geração, seus cartões de crédito e o pior, suas propagandas enganosas sobre a liberdade nos Estados Unidos.
Além disso, logo os cubanos de Miami poderão voltar pra casa e constituirão talvez o que se poderia se chamar de uma classe-média local, com toda a mentalidade burguesa que aprenderam a defender enquanto viveram nos Estados Unidos. Isso poderia causar, pela primeira vez desde a revolução, uma desigualdade social considerável, e onde existe a desigualdade social existe o aumento da insatisfação e da criminalidade. Pra completar, a queda do embargo possibilitaria uma enxurrada de porcarias enlatadas estadunidenses na ilha, talvez filmes e seriados com mensagens contra “ditaduras”, “governos autoritários” em favor da “democracia”, e etc. Sei que a população cubana tem um nível de escolaridade elevado e não se deixaria levar tão fácil pela propaganda, mas quem pode ignorar o poder de sedução da engenhosa ideologia capitalista e todas as suas consequências nefastas?
Espero estar completamente enganado, mas por enquanto, minhas barbas estão de molho.