A aproximação entre a Casa Branca e Havana tem sim a sua importância, mas na minha avaliação, ainda muito menor do que o “evento histórico” que andam a denominar o reestabelecimento das relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba.
Apesar de o embargo permanecer de pé, e não se saber se o Congresso terá vontade política de derrubá-lo*, alguns estudiosos do tema, como o renomado jornalista e escritor brasileiro Fernando Morais, disseram que a Guerra Fria acabou no exato momento em que Barack Obama e Raúl Castro faziam seus pronunciamentos, e os remanescentes dos “Cinco Cubanos” presos há 16 anos nos Estados Unidos, voltavam pra casa.
A medida certamente também representará um incremento no turismo da ilha caribenha, que pode acrescentar uma renda equivalente a 25 por cento do PIB cubano, um valor extraordinário. Fora isso, começou a aparecer até analistas tupiniquins tentando encher a bola do governo brasileiro, alegando que a construção do Porto Mariel financiado pelo BNDES foi “uma tacada de mestre” da Dilma, ignorando que a própria presidente se disse surpresa com o anúncio da reaproximação entre Estados Unidos e Cuba.
O que todo mundo parece ignorar são as intenções dos Estados Unidos nessa reaproximação.
Alguns analistas apontam que Obama está a fim de ganhar a simpatia do eleitor latino-americano para o pleito de 2016. Parece uma jogada muito grande para algo que poderia ser conquistado por outros meios. É preciso lembrar que, se a Guerra Fria do século XX acabou ontem, como disse Fernando Morais, a Guerra Fria do século XXI está em pleno curso na Ucrânia entre Estados Unidos e Europa de um lado e Rússia do outro. E Cuba tem sido um aliado histórico da Rússia desde os tempos da União Soviética. Neutralizar Cuba pode ser uma estratégia para evitar uma nova Crise dos Mísseis numa iminente e bem provável guerra entre Estados Unidos e Rússia. Ou, o que alguns já consideram inevitável, umaTerceira Guerra Mundial.
Além disso, enquanto uns ressaltam o fim do embargo (que ainda não veio), outros apontam que o que a Casa Branca pretende mesmo é o fim da Revolução Cubana. O acordo prevê a reabertura de embaixadas em ambos os países, o que não deixa de ser preocupante. Pois como resume bem a conhecida piada: “Sabe por que nunca houve um Golpe Militar nos Estados Unidos? Porque lá não tem uma embaixada dos Estados Unidos”…
Por isso é preciso um pouco de cautela nesse calor dos acontecimentos, e desconfiar sempre de quem tem o poder. A chave para entender a “bondade” de Barack Obama pode estar no Leste Europeu e no Oriente Médio, com intenções bem menos nobres.
Pra finalizar, é bom lembrar as palavras de Che Guevara:
*Bill Clinton, quando sancionou a chamada Lei Helms-Burton, em 1996, estabeleceu que nenhum presidente poderia colocar fim ao embargo econômico contra Cuba, mas somente o Congresso norte-americano.
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