Evento organizado no Facebook mobiliza milhares de brasileiros contra o ódio e à intolerância política neste sábado, dia seguinte ao Natal; trata-se do "Rolezinho para tomar cerveja com Chico Buarque", que já teve mais de 12 mil confirmações; "Esse não será o país do ódio!", diz a descrição do evento; desde que o grupo foi criado, várias pessoas publicaram fotos em homenagem ao cantor, que foi alvo de agressões de jovens com comportamentos fascistas no Rio de Janeiro no início desta semana; "Vou fazer um brinde à delicadeza, hoje, neste simpático “rolezinho com o Chico Buarque” que a turma da internet inventou. Tomo um chope com ele e, como ele não vai estar, tomo o dele também, com a devida licença. E o levanto, na esperança que o sono da delicadeza não seja tão longo, que não se tenha perdido para toda uma geração", escreveu Fernando Brito, editor do Tijolaço.
Do 247 - Um evento foi criado no Facebook em solidariedade ao cantor e compositor Chico Buarque, que foi alvo de agressões de jovens com comportamentos fascistas no Rio de Janeiro no início desta semana. Intitulado "Rolezinho para tomar cerveja com Chico Buarque" já teve mais de 12 mil confirmações.
"Pessoal, a ideia desse evento simbólico é movimentar o resto do Brasil. Convidem seus amigos para esse evento aqui e vamos botar pilha nas pessoas de todo o país para tomarem uma cerveja em um apoio ao Chico. Como disse Patrus, esse não será o país do ódio! Nós não vamos permitir", publicou a criadora do evento, Ana Paula Siqueira.
Desde que o grupo foi criado, várias pessoas publicaram fotos em homenagem ao cantor.
Leia, abaixo, texto do jornalista Fernando Brito, editor do Tijolaço, a respeito:
Um chope para o Chico, pelo tempo da delicadeza
Peço licença para perder o tom de jornalista e fazer como fez o Chico Buarque, nos anos da ditadura, para ser o Julinho da Adelaide e fazer escapar da censura algumas de suas músicas.
Mas é que a coisa aqui tá preta e a gente estava precisando de algo para que as pessoas – a imensa maioria – de bem e da bondade se tocassem do avanço da selvageria que acontece por toda parte, inclusive em nós mesmos.
Porque, como ao zika, ninguém é imune à microcefalia do clima de guerra de torcidas que toma conta da sociedade quando está em jogo o mais caro valor humano, aquilo que Cecília Meirelles disse que era a “palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”: a liberdade.
Porque liberdade não é apenas não estar preso, não senhor, embora a ideia de prender alguém, nem que o alguém seja um passarinho, seja repugnante.
Liberdade é poder pensar como quiser, agir como quiser – desde que não machuque ou prejudique outros -, ser igual ( o que nunca se é), ser diferente (o que nunca se é, totalmente).
Mas a liberdade não é só isso. Como Tom, maestro e parceiro do Chico, escreveu sobre ser feliz, também é impossível ser livre sozinho. A solidão, tomada em doses acima das necessárias, é um veneno: torna um ser humano a negação da liberdade, pois estende uma cerca em torno dele, que proíbe de sair e, sobretudo, proíbe de entrar.
Liberdade é um caldo coletivo, onde a gente nada conforme os nossos braços, se esbarrando uns nos outros, acertando às vezes o pé e os cotovelos, brigando aqui e ali, com uma única regra: ninguém pode ou deve ser afogado.
Porque liberdade não é conformismo, tanto quanto não é intolerância.
Quando se perde a tolerância, com ela se vai a liberdade alheia.
Como aconteceu com a do Chico de, simplesmente, andar pela calçada até um táxi.
Parece que o mundo virou um programa policial e o “escracha” a regra de comportamento.
As pessoas não podem ser deixadas em paz, têm de ser classificadas, julgadas, condenadas por darem qualquer opinião diferente daquela “autorizada” pela mídia, o general destes tempos modernos.
Mas, ainda bem, restaram alguns ícones de tempos difíceis, mas bem menos brutos.
De um tempo de delicadeza que, expulso das ruas, sobrevivia dentro de nós.
E que chocou o Brasil ver agredido gratuitamente na provocação ao Chico.
Em moldes terrenos, foi como aquele “chutar a Santa”
Vou fazer um brinde à delicadeza, hoje, neste simpático “rolezinho com o Chico Buarque” que a turma da internet inventou.
Tomo um chope com ele e, como ele não vai estar, tomo o dele também, com a devida licença.
E o levanto, na esperança que o sono da delicadeza não seja tão longo, que não se tenha perdido para toda uma geração.
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