Uma das falácias mais repetidas pela velha mídia é a de que o presidente Lula teria mantido os fundamentos macro-econômicos definidos pelo governo FHC desde o plano Real e esse seria o motivo do seu sucesso. Provavelmente se fosse vivo, até Goebbels se surpreenderia de estarem levando a ferro e fogo sua tese na qual a mentira se for repetida à exaustão passa a ser considerada uma verdade inquestionável.
Quem tem memória e acompanhou com preocupação tudo o que aconteceu na política do país pelo menos nos últimos 16 anos sabe que as bases macro-econômicas que Lula prometeu manter na histórica “Carta ao povo Brasileiro” não eram políticas de estado de FHC e muito menos implantadas no plano Real e sim imposições do FMI para poder mais uma vez tirar o país do fundo do poço que a administração tucana o enfiou por mais de uma vez.
A empulhação mentirosa cuja musa é a Míriam Leitão, defende a tese que todo o sucesso do governo Lula é fruto do que foi plantado pelo FHC e que este último apenas teve um azar danado com as condições internacionais mas, os fatos e dados que eles tanto fogem mostram que essa tese não se sustenta em cinco minutos de discussão. Os números mostram que durante o governo FHC o país viveu dois momentos distintos: no primeiro mandato a ilusão de um cenário artificializado pela âncora cambial que resultou no maior derrame nas reservas internacionais que se tem conhecimento na história do país e no segundo onde o país viveu um caos e perdeu tudo que tinha conquistado no primeiro momento do Real, tendo que ser salvo várias vezes pelo FMI, que além de pagar nossas contas ditava como deveríamos conduzir a economia e limitando investimentos sociais. O governo FHC foi marcado pela estagnação de uma economia que crescia bem menos que a inflação, pelo apagão de investimentos que até hoje sentimos as consequências e pela quantidade de desempregados que lançou na sociedade porque a economia estagnada não gerava os empregos para suprir a demanda dos novos trabalhadores que chegavam ao mercado de trabalho. Separamos algumas séries históricas de indicadores econômicos e de atividade para poder mostrar um pouco como o país se comportou nesses parâmetros durante os dois governos, e eles mostram claramente uma mudança de sinal que apenas acontece quando se imprime uma mudança real na forma e responsabilidade como é tratada a coisa pública.
O gráfico abaixo mostra como variaram nos dois governos: a taxa de juros selic definida pelo Banco Central, a taxa de inflação pelo IPCA e a Taxa de juros real (SELIC – IPCA), todas com intervalos mensais anualizados. O gráfico mostra os picos de taxas de juros das crises de 97 e 99 e da liberação do câmbio no início do segundo mandato de FHC, o que significa que em crises bem menores que a de 2009, o país teve que tomar medidas mais drásticas pois a nossa economia tinha se tornado fragilizado com a sangria de nossas reservas, que foi o custo da reeleição do FHC. Também é importante salientar que durante todo o seu governo manteve a taxa Selic em torno de 20% ao ano, mostrando como o país pagou o preço da estagnação para sustentar um controle inflacionário apoiado em fundamentos equivocados, além de evidenciar a incoerência dos tucanos quando hoje criticam os juros reais de pouco mais de 4% ao ano.
Um indicador de atividade que mostra bem a saúde da economia de um país é o índice de utilização de capacidade instalada da indústria que é uma espécie de termômetro da confiança do investidor e da demanda de nossos produtos. O aumento da utilização da capacidade instalada mostra que houve um aumento na demanda pelos produtos fabricados ou um acréscimo de investimento que significa que o empresário confia que o mercado consumidor se aquecerá em breve. Também é um indicador que revela em vários momentos no governo FHC (96, 97, 99, 2001) a utilização da capacidade instalada do país esteve em níveis alarmantes comuns a períodos de recessão econômica, e que no Governo Lula apenas na grande crise de 2009 a utilização caiu bruscamente mas, rapidamente retomou a trajetória de crescimento. Para facilitar a compreensão da tendência de queda do Governo FHC e de subida do governo Lula, nós traçamos uma linha calculada por polinômio (opção do Excel 2007).
Para completar, a série histórica da pontuação do índice Bovespa que é um indicador que reflete a forma como os investidores internacionais melhoram suas posições em relação ao potencial do país enquanto bom investimento. O investidor internacional aumenta os seus investimentos à medida que tem confiança nos fundamentos da economia e esse aumento é notável após 2003 e mesmo sofrendo um baque durante a crise de 2009, logo recuperou a trajetória de crescimento, principalmente depois que o país demonstrou durante a crise que realmente é digno da confiança depositada até aquele momento. Um dado de extrema importância que mesmo com a diminuição gradativa da taxa de juros reais os investimentos continuaram crescendo o que mostra que além de serem muitos superiores, a qualidade também aumentou porque se antes vinham atrás de especulação e lucro fácil pelas taxas de câmbio exorbitantes, agora passam a procurar um mercado promissor com os investimentos feitos a prazos maiores.
Espero que esse artigo tenha fornecido subsídios para futuras discussões sobre o assunto, pois é importante ter argumentos para rebater os adeptos da verdade única que usurpa o sucesso do governo do presidente Lula tentando atribuí-lo a um governo que fracassou. Todos os artigos dessa série não se tratam de simples comparações de dados dos dois governos, abordamos e aprofundamos nos assuntos para não dar margens a contestações e desqualificações, como já aconteceram algumas em comunidades do Orkut mas, que já foram devidamente rebatidas porque nós aqui lidamos com dados reais que podem ser verificados.
Fonte dos dados desse artigo: CORECON/SP – Caminho: Indicadores e Pesquisas / Séries Históricas
Informações adicionais:
- Nos meses de Dezembro de 94 a junho de 95, a anualização não levou em conta a inflação anterior a julho de 94 para não ser contaminada com a inflação pré-real sem prejuízo da análise dos números
- O índice Bovespa de Dezembro de 94 a Fevereiro de 97 foram reajustados para que possa ser verificada a sua trajetória pois, em março de 97 A Bovespa promoveu uma divisão do seu índice pelo quociente 10.
O quadro abaixo é uma contribuição do amigo leitor Rogério Bressan, que pesquisou a compilou os dados usando como fonte a revista Conjuntura Econômica o IBGE e o IPEA.