A IMPROVÁVEL CRÔNICA DE UM MANUSCRITO
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A IMPROVÁVEL CRÔNICA DE UM MANUSCRITO





A IMPROVÁVEL CRÔNICA DE UM MANUSCRITO


      Há histórias que não têm história nenhuma. Fantásticas, omniscientes e subtis, outras, nem tanto. Algumas são verdadeiras, vividas, intensas. Outras, uma metáfora, uma figura de estilo. A que vou contar, deixo ao vosso cuidado e percepção pô-la em prática.
     
      O episódio é atual, difere dos outros pela improbabilidade, mas convém reconhecer que há coisas na vida que, estando tão há frente de nossos olhos, também é improvável vê-las. 
     
      Aconteceu em Setembro último, talvez em Março. Não sei. Um amigo acabara de viver uma experiência única outrora, mas comum no futuro, sugeria o manuscrito. A descoberta deixara-o surpreso e sem qualquer coincidência ou obra do acaso. 
      
      No espólio de um poeta e escritor tinha sido encontrado um pergaminho sem data definida e origem desconhecida. Nunca foi mencionado por ninguém ou a ele se referiu. O poeta há muito tinha morrido. A letra era cuidadosamente desenhada, o papiro, de excelente qualidade. O que chamava a atenção, quando me foi mostrado, era a sua atemporalidade; por meu lado, a expressão “psicologicamente amadurecido”, pela primeira vez, na vida, ganhou sentido.
     
      Estava em português atual, quem sabe para que não houvesse erros de interpretação. Na época, falou-se à boca fechada, que um antropólogo de origem espanhola, veio de Madagáscar, onde residia, conhecer um documento pelo seu inestimável valor. De Eugéne, era assim que se chamava o antropólogo, nunca mais ninguém falou. Posteriormente, soube que o lera, chegando mesmo a comentar o excelente francês em que estava redigido. 
     
      Na ocasião, esse meu amigo confidenciou-me que o texto foi encontrado entre as páginas rascunhadas de um poema messiânico de inspiração celta. Talvez por esse motivo tenha passado despercebido ou tivesse o poder de ficar guardado até que as mãos certas o encontrassem. Aludiram ainda a algo sobre uma mensagem, mas não tomei atenção.

      Numa linguagem muito simples o manuscrito descrevia a diferença entre encontrar um caminho espiritual e permanecer nele. Se por um lado, sem devoção, não parece ser possível encontrar o caminho, sem a prática da meditação, no contexto a que o texto referencia, é pequena a probabilidade de permanecer nele. E chamava atenção, também, para que, sem devoção não há possibilidade de levar a meditação a bom porto. 

      De algum modo me revi, comentei mais tarde. Não estou certo que tenha escolhido o caminho. É uma questão de perserverança. Mas também é certo que ainda não estão criadas as condições. Então, aguardo.

      E enquanto espero não descanso. Voltei a recordar a Lama, do que me escreveu e me disse. À medida que lia o manuscrito as palavras dela faziam eco em minha cabeça. Como pessoa, tem a sua personalidade e age como qualquer outra. 

      Eu já tinha reflectido sobre a personalidade do Mestre e aceito como ela, ainda que nem minha professora seja, vivendo aqui e agora, não pode libertar-se dessas particularidades, porque elas fazem parte dos nossos caracteres humanos. Em contrapartida, posso-me libertar de tomar os caracteres da personalidade como reais e absolutas. 

      O documento fazia, neste capítulo, uma descrição maravilhosa, não só reforçou a minha preposição, mas deu a saber, com uma maior clareza, como nos poderemos libertar de permanentes conceitos e pré-juizos que fazemos de nós, dos outros e de tudo o que está à nossa volta. Deixando de olhar, por exemplo, para as características de personalidade da Lama e ver apenas a mensagem que ela transmite, o ser espiritual que existe. 

      Aos meus olhos ela é a manifestação de Aria Tara, a forma feminina de Buda. Não porque o seja, mas porque é essa a imagem que tenho, obviamente efémera e transitória. Não tendo de ser verdadeira ou falsa, ela é sagrada. 

      A esse propósito, no texto podia-se ler: “ … A reflexão sugere a inspiração criadora” … “Dá-nos um sólido sentido e perspectiva a libertação” … “Compreender a devoção, é entender o modo como nos proporciona uma total abertura para o auto conhecimento – uma total devoção dá-nos a possibilidade de uma completa transformação espiritual e a oportunidade de viver em compaixão – … e a esperança na realização.” 

       Ao ser tocado pela singeleza daquelas palavras escritas a cuidado, recordei-me de um momento que me impressionou. Foi quando senti no coração a expressão sagrada da existência e a urgência na realização.
 
Em consequência do que tenho aprendido através da observação e da reflexão, recordo quando perguntei à Lama sobre a natureza absoluta e a natureza relativa. Foi com a receptividade de uma criança que recebia sua correspondência:

Caro  MJ. 
Eu sugiro que vá ao encontro de nosso grupo de BH e na medida do possível  participe das práticas junto com eles, aquelas das quais você possa participar, já que algumas requerem iniciações que talvez você não tenha.  Que ouça os ensinamentos dos Lamas que vierem para BH. Porque é necessário ter o acompanhamento de um professor.
Meus melhores votos
SL

      Compreender a relação entre a realidade absoluta e a relativa é fundamental. Apreender como nós somos, o que é o nosso caráter, o que é a imagem que temos de nós próprios, é relativo. Ou seja, tudo aquilo que a partir de nossa concepção e percepção temos como real é de facto relativo sem uma consistência e natureza própria. Nem as coisas que construímos, a casa, a fábrica, a empresa são eternas, razão porque podemos dizer que é uma realidade relativa. É relativa a concepção que se tem do dinheiro, da bolsa de valores, do capital, e até dos pensamentos, emoções e sensações. Então perguntar-se-á qualquer pessoa, “se tudo é relativo, o que é absoluto e real?” É real enquanto temos de  viver para aprender o de facto é transitório. Tem uma época e uma duração, seja pela erosão do tempo, seja pelo que fôr, um dia acaba. O segredo é não tornar uma realidade relativa em uma realidade absoluta, mas entender a diferença, e essa diferença só pode ser entendida de uma forma simples quando sabemos que existe algo dentro de nós que é permanente, sagrado, indissociável.. 

       Então perguntar-se-á se não é verdadeiro: “como vivemos e em que acreditamos?”  O manuscrito refere esta passagem deste modo: “ … Vivemos  pensando de uma maneira diferente, porque sempre vivemos até hoje pensando no momento passado ou no instante futuro … é deixar ir e vir os pensamentos sem os prender no passado nem os projetar no futuro... nem ficamos agarrados a qualquer emoção de alegria ou de tristeza, nem dando importância às boas e às más situações e circunstâncias da vida.

      Hoje uma pessoa simples virou-se para mim e disse:
      - Eu acredito na justiça de Deus. 
      Ao que respondi: 
      - Prefiro pensar que essa justiça está no nosso coração. Mais não quis dizer, e ele entendeu a sua maneira:
      - Não conheço nenhum que não as tenha pago nesta vida.

       O seu comentário fez-me voltar ao instante que fiz o inventário dos meus comportamentos. Interpretar as emoções negativas subjacentes parecia-me uma tarefa infindável, interminável inconsequente, perpétua; às vezes inútil, mas não desisti. O segredo foi não olhar para o que me aconteceu ao longo da vida, mas para o que sentia, sem factos exteriores. Para o que sentia, como sentia, quando sentia e porque o sentia. 

      Foi assim que apreendi como eu não sou quem me vejo ser, mas uma construção mental e uma projeção de minha percepção, onde cada problema que tenho, como se pode ler no manuscrito: “ … se dá referindo a causa e as condições. Quando as causas e as condições mudam, o problema muda ou desaparece”.

      Ao refletir sobre causas e condições, o texto dizia: “… Sem um Mestre nenhum homem atingiu a realização… A percepção comum não permite a realização ”. 

     O mundo da psicologia parecia-me demasiado pequeno para dar a resposta. A observação que fiz levava-me a ganhar uma perspectiva diferente. 
Vislumbrar as possibilidades que tinha, deixara-me entusiasmado e necessitado de seguir em frente. Era uma urgência. O texto chamava também a atenção para esse pormenor, e quando acontecia. 

     Passadas umas semanas, contava-me aquele meu amigo, que o manuscrito desapareceu. 
     - Juro que li o que estou te dizendo – inflectiu ele –. O texto falava que o modelo descrito era propriedade dos homens, a “realidade absoluta” podia-se apresentar aos olhos das culturas com diferentes nomes, para uns era Deus, para outros Brahma e ainda para outros de Natureza da Mente...

     Outro dia estava com um jornal aberto. Uma pequena notícia chamou-me a atenção: No México foi encontrado, num “pueblo”, um manuscrito com características idênticas. Era um pergaminho sem data definida e origem desconhecida. A letra era cuidadosamente desenhada, o papiro, de excelente qualidade. O que chamava a atenção era a sua atemporalidade.


REGIÃO LITERÁRIA compartilhou originalmente:



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