Yacouba Sawadogo vive em Burkina Faso (África Ocidental) e foi capaz de fazer algo que nenhum cientista ou organização ambiental conseguiu.
Felizmente, cresce a cada dia a consciência coletiva sobre os problemas ambientais que a humanidade tem enfrentando.
Porém, a questão da “desertificação” não tem tanto destaque nas páginas dos jornais e nos programas de TV.
Aos poucos esse fenômeno vem recebendo a atenção que merece de ambientalistas, pesquisadores e governos do mundo todo. Não sem razão.
A cada ano, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 6 milhões de hectares de terras (ou 60 mil km², área que equivale a duas vezes a da Bélgica) se tornam improdutivos e caminham para se transformar em deserto.
Por isso, já existe consenso em nível internacional de que esse é o maior problema econômico, social e ambiental em várias regiões do mundo.
Yacouba Sawadogo, o agricultor que tornou férteis mais de 3 milhões de hectares de terras desérticas |
E o que o nosso amigo Yacouba tem a ver com isso?
Bem, a rápida desertificação das planícies férteis de Burkina Faso causou secas e arruinou colheitas, provocando assim um êxodo maciço dos habitantes e fomes que dizimaram populações.
Mesmo frente a esse cenário, que por muitos era tido como irreversível, um simples agricultor, fazendo uso dos seus talentosos métodos agrícolas, veio mostrar a solução para alcançar o que especialistas não conseguiram fazer: dar vida ao deserto.
A agricultura e o cultivo indiscriminado do solo resultaram na erosão e a seca severa. Por muitos anos pesquisadores nacionais e internacionais tentaram sem sucesso resolver esta grave situação.
Foi então que, em 1974, Yacouba decidiu fazer algo com suas próprias mãos.
Sawadogo reviveu uma antiga técnica de cultivo que melhora a qualidade do solo e, como resultado, torna mais férteis as terras desérticas.
Com uma firme certeza de que tudo pode mudar, ele começou a sua luta contra o deserto.
Começou em 1974 quando a seca assolou o Sahel, a zona ecoclimática e biogeográfica de transição entre o norte do deserto do Saara e o sul da savana sudanesa.
Com métodos e técnicas de cultivo incomuns conseguiu regenerar a floresta e parar o avanço do deserto.
Ele usou de uma antiga prática agrícola Africana chamada “Zai”, simples e de baixo custo, mas que apresentou um incrível resultado.
Usando uma pá, ele abriu buracos na terra dura e o enchia parcialmente de adubo e sementes. Os buracos foram preenchidos de água durante a estação chuvosa, mantendo a umidade e nutrientes durante a estação seca.
Embora muitos vizinhos abandonassem suas aldeias, rodeadas de terras estéreis, ele só pensava em uma forma de repovoar com árvores a região de Gourga, em Burkina Faso (ex República de Alto Volta até 1984.)
Pensavam que ele era louco, mas 40 anos depois conseguiu recuperar mais de três milhões de hectares de terreno desértico em 8 países do Sahel, convertendo-as em terra de cultivo.
Para conquistar seu objetivo, Yacouba Sawadogo decidiu empregar uma técnica de agricultura tradicional denominada "Zai" ainda que adaptando-a aos tempos modernos.
Após três anos de experimentação, convenceu-se de que o método poderia ser a solução definitiva para o deserto.
Os resultados parecem dar-lhe razão. Desde as primeiras chuvas o rendimento da terra se duplica, chegando a multiplicar-se por quatro.
Convencido de que poderia revolucionar a vida de seus compatriotas, decidiu percorrer o país, de moto, para ensinar a técnica a todos os agricultores que pudesse.
Este burkinés, sem utilizar nenhuma técnica da civilização moderna começou a plantar segundo a técnica "Zai" tradicional de seus ancestrais, que ele melhorou expandindo poços para que se mantenha a umidade e acrescentando esterco e palha para retê-la por um tempo maior.
Seus experimentos tiveram êxito, a fertilidade começou a aumentar. Junto com as sementes de milho e sorgo começaram a crescer árvores.
A forma de plantar permitiu que mais água penetrasse no solo. Dessa forma, os aquíferos de água subterrânea na região de Yatenga, que haviam diminuído em razão da seca da década de 80, começaram a subir.
Em torno de acidade de Quahigouya, Capital de Yatenga, no Norte de Burkina Fazo, Sawadogo criou em 20 anos um bosque de 20 ha.
Com o tempo, decidiu melhorar o método plantando também árvores que ajudaram a manter a umidade do solo e favoreciam a infiltração natural da água.
Em 20 anos, Yacouba transformou uma área completamente estéril em uma exuberante floresta de 30 hectares, com mais de 60 espécies de árvores. Atualmente, Yacouba aconselha agricultores de aldeias vizinhas sobre técnicas de plantio.
Em 2010, o premiado diretor Mark Dodd fez um documentário baseado nas experiências de Yacouba chamado “O homem que parou o deserto”.
Quarenta e um ano depois dos primeiros experimentos, seu método já recuperou mais de três milhões de hectares de terrenos desérticos e se estendeu de Burkina Fazo a mais 8 países da região de Sahel.
Aqueles que o consideraram louco quando plantava em pleno deserto, agora, aos 67 anos, o consideram um herói. E ele diz que, sua recompensa, é saber que milhares de pessoas são capazes de viver do fruto de suas terras.
Sua compreensão do mundo e da conservação da natureza é profunda: "Se cortamos 10 árvores diariamente e não plantamos uma só em um ano, vamos caminhar direto para a destruição."