O movimento dos professores/as do Rio de Janeiro: impasses e desafios
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O movimento dos professores/as do Rio de Janeiro: impasses e desafios


O movimento dos professores/as do Rio de Janeiro:
impasses e desafios
Os governos do estado e do município do Rio de Janeiro têm assumido em relação ao  movimento dos profissionais de educação uma posição violenta, desrespeitosa e autoritária. Violenta por permitir o uso da força física por parte da polícia, de modo claramente ofensivo e de repressão absurda e antidemocrática. Desrespeitosa por não reconhecer os profissionais de educação, devidamente representados pelo SEPE, como legítimos interlocutores. Autoritária por não mobilizar com  determinação o diálogo e  a negociação com os educadores/as.
 
As reivindicações dos profissionais de educação são justas e pertinentes. Não existe qualidade de educação se os educadores  não têm condições adequadas de trabalho: salário justo, escolas bem equipadas, horário de trabalho concentrado numa escola, tempo para planejamento pedagógico e para construir projetos coletivos, formação continuada, número adequado de alunos/as em cada sala de aula, carreira docente estimulante e autonomia profissional.
 
De fato, as políticas educacionais do estado e do município, na atual gestão, têm se pautado por uma concepção tecnocrática, instrumental e performática da educação. Controle, monitoramento e desempenho medido por provas padronizadas são seus eixos fundamentais. Nesta lógica os profissionais da educação são reduzidos a meros executores de determinações  políticas elaboradas sem a sua participação, agentes passivos de orientações curriculares e pedagógicas com as quais não se identificam.

Os profissionais de educação do nosso estado têm uma história de luta e compromisso com a educação. Investem em sua formação continuada. São conscientes do papel da educação para a formação da cidadania. Não permitem que o processo educacional se conceba basicamente como ensino de alguns conhecimentos específicos. Educar não pode se reduzir a ensinar. Nem ensinar a instruir. Nem instruir a preparar para ter êxito em testes padronizados.
 
Os profissionais da educação acreditam/acreditamos que educar nos remete a favorecer o desenvolvimento dos alunos/as em diferentes dimensões. Reconhecer e valorizar cada aluno, cada aluna, tendo presente suas características socioculturais. Apostar no potencial de crescimento pessoal e coletivo dos diversos sujeitos dos processos educativos. Estabelecer relações de cooperação e trabalho conjunto com as famílias e as comunidades. Comprometer-se com uma qualidade social da educação,  orientada à transformação da nossa sociedade, à formação para uma presença competente e comprometida na construção de uma verdadeira democracia.
 
Os profissionais de educação exigem/exigimos autonomia pedagógica. Possuem/possuímos um saber construído ao longo de muitos anos de formação e prática pedagógica cotidiana. Querem/queremos  participar ativamente da construção das políticas educativas.
 
Vivenciam/vivenciamos diariamente os desafios da educação. São/somos os principais responsáveis dos processos educacionais. Exigem/exigimos respeito e reconhecimento. Repudiam/repudiamos o autoritarismo. Estão/estamos abertos ao diálogo e querem/queremos ser considerados protagonistas das políticas educativas.
 
É tempo de renovarmos nosso compromisso com a escola pública.  Neste momento crítico, é necessário que toda a sociedade participe de um amplo debate sobre os rumos da educação no nosso estado e no país. Consideramos fundamental reinventar a escola para que possa dar resposta aos desafios da sociedade em que vivemos. Não acreditamos na padronização, em currículos engessados e perspectivas que reduzem o direito à educação a resultados uniformes. Acreditamos no potencial dos educadores para construir propostas educativas coletivas e plurais. É tempo de inovar, atrever-se a realizar experiências pedagógicas, promover  intercâmbio entre professores/as e escolas, mobilizar as comunidades educativas na construção de projetos político-pedagógicos relevantes para cada contexto.
 
Hoje, 15 de outubro, Dia do Professor/a, queremos renovar nossa crença no compromisso de cada educador, de cada educadora, na sua capacidade de luta e  de construção coletiva de caminhos de renovação e reinvenção das nossas escolas, dos sistemas de ensino, das políticas públicas de educação.
 
Vera Maria Candau
Professora titular
Departamento de Educação – PUC-Rio
Assessora da ONG Novamerica
 



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