Praticamente todos os medalhistas brasileiros nas Olimpíadas até agora fazem parte de programas públicos de incentivo ao esporte. Muitos estão no Programa Atletas de Alto Rendimento, uma parceria firmada em 2008 entre os Ministérios dos Esportes e da Defesa. Pelo programa atletas de alta performance recebem uma patente militar, por exemplo de sargento, além de soldo para poderem continuar suas carreiras, tendo eventualmente a estrutura de quartéis para treinar. Em troca devem fazer continência quando chegam ao pódio, cena que se repete quase sempre que oBrasil ganha ouro – com as velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze, Thiago Braz da Silva no atletismo, e por aí vai.
Mais do que uma eficaz peça de propaganda para as Forças Armadas trata-se de uma política pública de incentivo ao esporte nacional. Junta-se a outras iniciativas como a Bolsa Atleta Pódio, também à disposição de praticamente todos os medalhistas brasileiros e atletas que irão disputar as paraolimpíadas em breve.
Por algum motivo estes detalhes parecem esquecidos nas narrativas de TV das Olimpíadas, que raramente veiculam o esporte a uma realidade nacional mais ampla e complexa. No geral o trunfo olímpico é apresentado ao público como fruto do (inegável) esforço e mérito individual. Raramente, porém, como resultado de um trabalho coletivo que vai além do atleta, sua família e equipe. De um trabalho coletivo que inclui uma (tão necessária) política de incentivo ao esporte, em um país com notório déficit na área. As histórias de nossos atletas revelam muita superação e também muitas deficiências coletivas – faltam pistas, piscinas, equipamentos básicos e por ai vai. Suas vitórias nos lembram frequentemente o quanto ainda falta para de fato chegarmos lá.
Some-se aos investimentos nos atletas os R$ 2,6 bilhões de dinheiro público investidos nas arenas esportivas, muitas delas provisórias, e as isenções de impostos concedidas aos promotores olímpicos (valores não divulgados até aqui), e tem-se que o sucesso olímpico é, em grande medida, bancado por políticas públicas. Ganharia o país se isto fosse também lembrado na hora do pódio. Até para que tudo fique mais transparente.
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