Os recursos seriam de empresas que atuavam na obra do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Os dois negaram envolvimento com Costa, preso na Operação Lava Jato, da PF, que apura esquema de lavagem de dinheiro e corrupção na Petrobras.
A Procuradoria Geral da República (PGR) deve pedir ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) até amanhã a abertura de inquérito contra Cabral e Pezão. É o mesmo procedimento usado no Supremo Tribunal Federal (STF): com base nos depoimentos de Costa e do doleiro Alberto Youssef, 49 pessoas serão investigadas pela Lava Jato.
O ex-diretor da Petrobras apontou Régis Fichtner, ex-secretário da Casa Civil do governo do Rio, como “operador do esquema”. Em nota, ele negou envolvimento.Segundo o delator, os recursos para campanha de Cabral e Pezão em 2010 eram “propinas” de dois grupos de empresas que atuam no Comperj: R$ 15 milhões do Consórcio Compar, formado pelas empreiteiras OAS, Odebrecht e UTC; e o restante de Skanska, Alusa e, mais uma vez, da UTC.
Segundo os dados disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral(TSE), a campanha de Cabral declarou à Justiça apenas uma doação, no valor de R$ 1 milhão, feita pela OAS. Ao todo, o ex-governador recebeu R$ 20,7 milhões. Em 2014, Pezão somou mais que o dobro: R$ 45,1 milhões, sendo R$ 1,25 milhões da mesma OAS.
No depoimento, Costa falou sobre uma reunião, à qual teriam comparecido representantes da Skanska, Alusa e Techint. O assunto teria sido uma “ajuda” para campanha de Cabral. Outro encontro, no primeiro semestre de 2010, teria ocorrido entre o diretor, Cabral, Pezão e Fichtner para tratar de doações a campanha.
Pezão afirmou que a denúncia é “absurda”. “Não conversei com ninguém da Petrobrás para pedir ajuda de campanha. Não pedi ou recebi qualquer recurso do Paulo Roberto Costa”, afirmou ele, que disse ser necessária a comprovação das acusações e informou estar à disposição da Justiça.
Em nota, o ex-governador Sérgio Cabral garantiu que o ex-diretor da Petrobras mentiu e que “a reunião mencionada nunca aconteceu”. “Todas as minhas prestações de contas foram aprovadas”. Fichtner também se manifestou, negando as reuniões e dizendo estar “indignado”. Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa Techint negou qualquer contato com os envolvidos mencionados por Costa.
Doação de R$ 1 milhão da OAS
A campanha de Sérgio Cabral ao governo do estado recebeu contribuição de empresas mencionadas por Paulo Roberto Costa, mas longe dos valores apontados por ele.
Ao todo, o ex-governador declarou R$ 20,7 milhões em receitas, sendo quase 27% doados por empreiteiras: aproximadamente R$ 5,5 milhões. Os dados estão disponíveis para consulta no portal do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Das empresas citadas pelo ex-diretor da Petrobras em sua delação premiada, consta apenas a OAS, que doou R$ 1 milhão, o que representa 4,9% do total da campanha.
O Comitê Financeiro Único do PMDB do Rio recebeu doações de mais três empresas citadas por Paulo Roberto Costa: UTC (R$ 1 milhão), Alusa (R$ 500 mil) e Odebrecht ( R$ 200 mil). A conta peemedebista, responsável pelo repasse de recursos aos candidatos, fechou as eleições em R$ 32,4 milhões. Treze por cento (R$ 4,2 milhões) vieram de empresas investigadas na Operação Lava Jato. Cabral recebeu R$ 2 milhões do Comitê, em 5.826 doações.
Dinheiro para caixa do PT
Em depoimento de delação premiada, o doleiro Alberto Youssef afirmou ao Ministério Público Federal que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu recebiam dinheiro do esquema de corrupção da Petrobras para repassar ao caixa do partido.
As declarações foram prestadas em 24 de setembro do ano passado e enviadas, em regime de segredo de Justiça, ao Supremo Tribunal Federal (STF), por conterem citações a políticos com foro privilegiado.
A assessoria de Vaccari Neto informou que o PT “só recebe doações legais que, posteriormente, são declaradas à Justiça eleitoral” e que o tesoureiro está “à disposição da Justiça para prestar qualquer esclarecimento”. A assessoria de Dirceu disse que ele “repudia com veemência” as declarações de Youssef.
Youssef afirmou também o Palácio do Planalto era o responsável final pela escolha dos diretores da Petrobras quando surgiam divergências entre os partidos políticos em torno da indicação de nomes para os cargos.
“Eram comuns as disputas de poder entre partidos relacionadas à distribuição de cargos no âmbito da Petrobras e que essas discussões eram finalmente levadas ao Palácio do Planalto para solução”, diz o depoimento do doleiro, prestado em 3 de outubro.
Eduardo Cunha defende o financiamento privado
No cerne do escândalo de corrupção da Petrobras, o financiamento das campanhas eleitorais por empresas não deve ter suas regras mudadas tão cedo. Homenageado ontem pela Associação Comercial do Rio(ACRJ), o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), negou várias vezes as acusações que o tornaram um dos políticos investigados pelo STF por suspeita de envolvimento no esquema de desvio de dinheiro na Petrobras. Depois, negou que corrupção e doações, consideradas legais pela legislação brasileira, tenham relação.
Cunha deu mostras ainda que uma eventual reforma política votada pela Casa não deverá mexer no assunto. “A tentativa de criminalização da doação eleitoral legal faz parecer que isso é fonte de corrupção. E aí ficaria o financiamento público, que a sociedade não quer. Minhas doações, como a de outros, não foram ilegais”.
Perguntado, então, qual seria o interesse de empresas em patrocinar campanhas eleitorais, Cunha foi veemente. “Comprometimento com ideias. Se você acha que doação é só por interesse imediato, para ter um benefício na sequência, então você está colocando em dúvida todos os políticos eleitos desde que esse sistema entrou em vigor”, afirmou.O deputado quebrou o protocolo durante o prêmio que recebeu da ACRJ e usou o começo de seu discurso para se defender do inquérito aberto pelo STF para investigá-lo. Depois, em entrevista coletiva, voltou a questionar o procedimento. “O inquérito é uma piada”, resumiu.
Segundo ele, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, teve “motivações políticas” para indicar seu nome. Cunha acusou a Procuradoria e o governo de atuarem juntos para dividir o ônus do escândalo.
Ele alegou que não há “confiabilidade” no Planalto. “A corrupção é da Petrobras, é do governo. Quem tem que combatê-la é o governo. Não é o Congresso”.
Cunha disse que pedir o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) é golpe. “Essa não é a forma de atacar o problema, na minha opinião. Isso é golpe. Ela foi eleita legitimamente; tem um mandato a cumprir. Aqueles que votaram nela e porventura se arrependeram deveriam ter esse juízo de valor antes de votar e terão a oportunidade de rever na próxima eleição”.
http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2015-03-10/cabral-e-pezao-teriam-recebido-r-30-milhoes.html