Ele é um ministro que fala o que pensa, na hora em que bem entende e sem medo de polêmicas. Tachado de tucano, Gilmar Mendes distribui críticas ao PT, é empresário do ramo da educação, mantém vida social agitada, abre sua casa para jantares com personalidades do mundo jurídico e político e não se constrange em ser visto com figuras proeminentes do governo interino de Michel Temer.
Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2002, indicado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), de quem foi advogado-geral da União, Gilmar chama atenção mais uma vez. Só autorizou investigações contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG), por suspeitas de desvios em Furnas, depois da insistência do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Gilmar Mendes é ministro do Supremo desde 2002, indicado por Fernando Henrique CardosoFoto: Nelson Jr. / ASICS/TSE/Divulgação
No último fim de semana, teve um encontro controverso com Temer. Novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), responsável pelo julgamento das contas da chapa Dilma-Temer, Gilmar visitou o interino no Palácio do Jaburu. Oficialmente, discutiram em um sábado à noite o orçamento das eleições municipais.
Ambos têm boa relação. Constitucionalista, Temer recebia convites para palestras no Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), centro de ensino do qual o ministro é sócio. Gilmar não vê conflito de interesses em suas amizades, cultivadas em mais de 40 anos de Brasília, período de intenso convívio com políticos e burocratas, em especial das gestões Fernando Collor e FHC, nas quais exerceu cargos técnicos.
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No STF, tem fama de não saber guardar segredos. Os colegas evitam comentar episódios com o magistrado, receosos de que as histórias estrelem colunas de jornais. No momento, ele está mais próximo de Dias Toffoli. Já a relação com o presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, é fria. Os dois falam apenas o necessário. Adepto do confronto, Gilmar provoca os pares durante seus votos.
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— Faz questão de convencer os outros, por isso gosta de cutucar — descreve um colega.
O estilo rende o histórico de atritos com outros ministros. O bate-boca mais famoso ocorreu com Joaquim Barbosa, em 2009.
— Vossa excelência, quando se dirige a mim, não está falando com os seus capangas do Mato Grosso — tascou o ex-ministro.
— Ministro Joaquim, vossa excelência me respeite — retrucou Gilmar, natural de Diamantino (MT).
Apesar do carimbo de tucano, também mantém contatos com petistas. Até a véspera do julgamento do mensalão, em 2012, era visto como um dos canais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no STF.
No entanto, é clara sua preferência pela convivência com próceres do PSDB. Na quarta-feira, 16 de março, Gilmar foi fotografado em almoço na Trattoria da Rosario, badalado restaurante italiano de Brasília, com o senador José Serra (PSDB-SP) e Armínio Fraga, presidente do Banco Central em parte do mandato de FHC. Logo depois, participou do julgamento dos embargos do rito do impeachment. O magistrado voltou à Trattoria no sábado, um dia depois de suspender a posse de Lula na Casa Civil. Ao sair, foi aplaudido pelos clientes.
O restaurante é um dos locais mais frequentados por Gilmar, que também aprecia oferecer jantares em sua casa. Ministros, desembargadores, procuradores, advogados, parlamentares e jornalistas passam pelo local, recepcionados pelo magistrado e por sua mulher, Guiomar, famosa por advogar nos tribunais superiores da Capital. A relação do casal é intensa. Quando viaja de avião, o ministro mantém dois hábitos: faz o sinal da cruz e avisa a mulher a cada pouso e decolagem.
Com rotina profissional atribulada e vida social agitada, Gilmar dorme pouco. Deita depois da meia-noite e acorda por volta das 5h, quando começa a distribuir e-mails e a preparar aulas e palestras. Ele gosta dos livros. Aliados o consideram "brilhante", enquanto desafetos o chamam de "arrogante". Concordam que tem sólida formação acadêmica. Uma de suas referências foi o ministro do STF José Carlos Moreira Alves, seu orientador no mestrado. No entanto, Gilmar não se espelhou em uma característica do mentor: Alves dizia que o juiz só fala nos autos. O pupilo fala em julgamentos, palestras e entrevistas. Gosta de opinar.
— Ele não tem melindre em decidir polêmicas na contramão da opinião pública, sempre com base jurídica — descreve Gilson Dipp, ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça.
Amigo de Gilmar, Dipp reconhece que ele julga sem avaliar eventuais críticas. Em 2008, mandou soltar duas vezes o banqueiro Daniel Dantas. Em 2014, com maioria formada no STF pela proibição do financiamento empresarial de campanhas eleitorais, pediu vista e levou um ano e meio para liberar o voto.
— Ele era contra a proibição e usou o cargo para segurar o julgamento. É o perfil do ministro partidarizado do STF — critica o deputado Henrique Fontana (PT-RS).
Teori Zavascki, o gremista catarinense
Teori Zavascki está no Supremo há quatro anos, quando foi indicado por Dilma RousseffFoto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Ele é um ministro que prefere falar nos autos. Reservado e avesso a entrevistas,Teori Zavascki é um homem de poucos e leais amigos. O estilo ajuda a blindá-lo das pressões exercidas por coronéis da política nacional, preocupados com o cerco provocado pela Operação Lava-Jato.
Indicado em 2012 por Dilma Rousseff para o Supremo Tribunal Federal (STF), Teori tomou decisões que abalaram a República e geraram controvérsias jurídicas. Além de dar aval a investigações contra dezenas de políticos de diferentes partidos, autorizou a prisão do então senador Delcídio Amaral (sem partido-MS), as buscas na residência oficial de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o afastamento do parlamentar da presidência da Câmara. Petistas criticaram o ministro pela demora de quase cinco meses para suspender Cunha, ocorrida depois da admissibilidade do impeachment na Câmara.
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Natural de Faxinal dos Guedes, no interior catarinense, Teori é apresentado desde a infância como um sujeito discreto e introspectivo, características que preserva e o tornam um enigma. Nas conversas gravadas por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, caciques do PMDB comentavam as dificuldades para se aproximar do magistrado, chamado de "fechado" pelo senador Romero Jucá (RR), derrubado do Ministério do Planejamento pelos áudios. Nos diálogos, o ex-presidente José Sarney (AP) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), sugeriam chegar ao relator por meio de Cesar Asfor Rocha, que foi seu colega no Superior Tribunal de Justiça (STJ), e do advogado Eduardo Ferrão. Em eventos em Brasília, Asfor tem negado tanta intimidade.
— Trabalhei com Teori, somos amigos, mas não é para tanto — repete.
Gaúcho radicado na capital federal, Ferrão é próximo do ministro, as famílias se conhecem e os dois costumam almoçar ou jantar — já foram vistos no restaurante Rubaiyat, famoso pelos cortes de carne vermelha. O advogado integra o seleto grupo de amigos de Teori em Brasília, onde o catarinense trabalha desde 2003, quando assumiu no STJ.
— Teori não é de fazer social. É raro ir em jantares que outros ministros e advogados oferecem em suas casas, ou, se vai, fica pouco tempo — descreve um magistrado.
Também figuram no círculo de amizades Luiz Carlos Madeira, Gilson Dipp e Nelson Jobim, um dos entusiastas de sua indicação ao STF. Caseiro, quando sai Teori gosta de beber e conversar sem pressa. Aprecia os chopes do Bar Brasília e do Carpe Diem, pontos tradicionais, porém sem o requinte de casas mais renomadas da Capital. Contudo, desde que assumiu a relatoria da Lava-Jato, sua rotina ficou mais austera. Uma das escapadas recentes foi um show de Caetano Veloso.
Já em Porto Alegre, onde vivem os filhos e iniciou sua carreira, o magistrado fica mais à vontade. Assa churrasco, assiste a jogos do Grêmio e sai para jantar. Mês passado, se reencontrou no restaurante Le Bateau Ivre, no bairro Mont Serrat, com Luiz Carlos Madeira e Paulo Odone. No final da década de 1960, ele foi estagiário no escritório que os dois mantinham.
— Não falamos de Supremo. Falamos da vida e do Grêmio — resume Madeira, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Teori não leva trabalho para os momentos de lazer. Na celebração pela posse de Edson Fachin no STF, em 2015, foi cercado por um grupo de jornalistas. Engatou histórias de uma viagem de férias ao Exterior, sem dar brecha para perguntas. Faz o mesmo com amigos e familiares. Se reprova o comentário ou pergunta, não responde.
— Pois é... — diz, encerrando o assunto.
Com os mais próximos, o ministro se queixa da fama de sisudo. Brincalhão em casa, admite que aprecia mais ouvir do que falar. Tal perfil agrada outros integrantes do STF. Teori é mais próximo de Fachin, Luiz Fux e Rosa Weber. A relação com
Ricardo Lewandowski é boa. Quando toma uma decisão polêmica, costuma ir ao gabinete do presidente da Corte ou lhe telefonar. Foi assim na prisão de Delcídio e no afastamento de Cunha.
Nos últimos meses, Teori teve a segurança reforçada. Depois de determinar que o juiz Sergio Moro enviasse ao STF as investigações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no episódios da conversa gravada entre ele e Dilma, foi alvo de uma onda de protestos e ameaças feitas por grupos favoráveis ao impeachment. Mais de dois meses depois, ainda chegam e-mails, bilhetes e mensagens nada amistosos.
A situação não preocupa o magistrado, que admite cuidado com a família. Seu temperamento faz com que não se assuste ou deslumbre. No verão passado, com a prisão de Delcídio ainda recente, foi aplaudido ao ingressar em um restaurante no litoral catarinense. Perguntado em um café se sentiu algo, foi direto:
— Não senti nada. Hoje, sou aplaudido, amanhã serei vaiado.
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/politica/noticia/2016/06/as-polemicas-de-gilmar-mendes-e-a-discricao-de-teori-zavascki-5826074.html