Pedro Henrique Oliveira
Com uma sociedade cada vez mais competitiva e um mundo irreversivelmente globalizado resta evidente que a principal forma de conseguir um espaço no mercado de trabalho é buscando uma formação de excelência. Isso não quer dizer, como deduzem a maioria esmagadora da população, que apenas o porte de um diploma universitário traga consigo a excelência esperada.
É notório o absurdo quantitativo de “faculdades” existentes atualmente no Brasil, número esses que ao invés de retratar um índice confortável e condizente com o bom momento vivido pelo país apenas retratam preocupações, tendo em vista a existência de um mercado de trabalho cada vez mais escasso de profissionais qualificados para desempenhar funções vitais.
De acordo com o site da Associação Brasileira de Estágios (ABRES), o último censo realizado pelo Inep/MEC em 20101, constatou que existem no Brasil cerca de 14,7 milhões de estudantes (somando estudantes de ensino médio e universitários), sendo que desses, apenas 6,8% conseguem oportunidade de estagiar.
Com base nesses dados, chega-se a preocupante constatação de que a formação profissional atualmente promovida no Brasil está fadada ao insucesso por parte da grande enxurrada destes simples “portadores de diplomas”. Não obstante, conclui-se que a economia nacional, a qual se encontra em franco desenvolvimento, precisa cada vez mais de mão de obra qualificada, de profissionais preparados para os grandes desafios.
É partindo deste norte que defende-se o quanto é fundamental a experiência proporcionada pelo estágio para a formação profissional. Imagine uma pessoa que resolve aplicar parte de seus rendimentos em uma caderneta de poupança, visto que tal investimento suprirá suas necessidades ao passar dos anos, dando bons rendimentos, os quais podem ser percebidos pelo investidor durante sua evolução. Ou, em um cientista que acaba de descobrir uma nova molécula que poderá ser útil em estudos posteriores. Esse cientista resolve estimular o seu desenvolvimento, oferecendo as condições necessárias a fim de descobrir sua serventia.
É através do comparativo com as situações descritas acima, que se verifica qual o basilar fundamento do estágio, momento no qual o ente concedente investe em um estudante, acredita em seu potencial, alimenta o seu sonho, oferecendo-lhe a oportunidade de evoluir. E o desenvolvimento desse estudante é que dará ao mercado de trabalho um profissional preparado para enfrentá-lo.
Assim, encontra-se no ambiente do estágio uma grande oportunidade, - se não a maior, de unir a teoria e a prática, além de impregnar no estudante as peculiaridades daquela profissão. É com o estágio que o acadêmico constatará se realmente fez a escolha certa, de acordo com suas habilidades e particularidades, o que deseja exercer ao decorrer de toda a sua vida.
DO DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES E SURGIMENTO DE NOVAS ATITUDES.
1) Responsabilidades impostas pelo exercício do estágio
Situações vivenciadas cotidianamente fazem com que o pretenso profissional, ainda estudante, aflore em seu subconsciente um espírito responsável. A responsabilidade é sem sobra de dúvidas, a qualidade primordial de qualquer profissional que se preze.
Com o discernimento que deve sempre, em todas as situações da vida, ser muito pontual, o estudante passa a vivenciar a necessidade prática de estar no horário pré-estabelecido em todos os locais no qual se comprometeu a comparecer. Já diz o velho jargão: tempo é dinheiro, e a pontualidade assume um papel inquestionável nas relações profissionais e empresariais do mundo atual. Por isso que chegar no horário correto ao estágio, cumprir a hora agendada para uma reunião ou audiência são demonstrações da preocupação que o estagiário deve ter com seu tempo e com o tempo das outras pessoas também. É dessa forma que o estagiário começa a adquirir esse adjetivo tão imperioso para o profissional.
O estudante também passa a ter disciplina, tendo em vista que é importante que o estagiário verifique em todas as diligências ou incumbências atribuídas, a possibilidade da sua realização, buscando sempre objetivar a formulação do que lhe tenha sido passado. Ter disciplina é basicamente estar ciente do que deve ser feito, o prazo no qual a tarefa deverá ser desempenhada e seu grau de prioridade.
Ter organização, que é outra importante aliada de todo profissional, é também francamente desenvolvida no momento do estágio. O estagiário aprende que deve manter sempre uma conduta vista como organizada, estar sempre anotando as suas obrigações e tarefas, para jamais esquecê-las, evitando desta forma uma postura contra as diretrizes da empresa. É de se enaltecer que o profissional organizado trabalha melhor porque tudo que precisa está em seu devido lugar, desde uma simples caneta, até relatórios e pastas de arquivos. Ao manter sempre sua mesa limpa, por exemplo, o estagiário começa a agregar esse valor profissional ao seu estágio.
Dessa forma, verifica-se que o nascedouro das responsabilidades de um profissional advém das experiências e fatos ocorridos durante o estágio. Por tal motivo é proporcional a alegação de que, um estagiário responsável tende a também ser um profissional responsável.
2) Percepção das deficiências
É no momento do estágio que um importante instrumento tanto para a vida profissional, como para a vida privada é desenvolvido. Esse mecanismo de reconhecer as próprias deficiências é composto por outras duas qualidades cervicais para a vida profissional, quais sejam, o autoconhecimento e o senso crítico.
Conhecer suas próprias limitações é sem dúvidas, o marco inicial para superá-las, e é graças a prática real das atividades da profissão escolhida, por meio do estágio, o momento vital para essa percepção. Perceber o que mais é preciso aprender, onde melhorar, o que fazer para desempenhar melhor a função incumbida, são interrogações que permeiam o momento do estágio.
O pai do Taoísmo2, o sábio Lao Tsé, em uma certa oportunidade proferiu a seguinte frase: "Conhecer os outros é inteligência, conhecer-se a si próprio é verdadeira sabedoria. Controlar os outros é força, controlar-se a si próprio é verdadeiro poder". É com base nesse ensinamento, que extrai-se a fundamental importância para o profissional reconhecer suas próprias limitações.
De fato, reconhecer suas limitações, ser humilde em dizer que não sabe, mas que deseja aprender, é o passo inicial dado pelo estudante durante o estágio que o projeta para as múltiplas experiências, calejando-o para o mercado de trabalho.
Outrossim, passar a analisar as situações do cotidiano, dando um enfoque crítico é um atributo que tende a ser desenvolvido com o início da prática das atividades, ou seja, com o estágio.
Não obstante, a maior virtude de um profissional é reconhecer seus próprios erros. Ou mais do que isso, é assimila-los, é aprender com as falhas, é assumir a responsabilidade, que como já debatido, é uma qualidade oriunda e propícia de ser desenvolvida durante o estágio, para poder desenvolver como profissional. Sinteticamente, os erros somente geram aprendizado quando nós os reconhecemos, admitimos nossa responsabilidade e refletimos honesta e disciplinadamente sobre suas causas.
A par dessas constatações, percebe-se o quanto é importante para o estudante, como profissional em formação, a percepção dos próprios erros e deficiências, visto que a hora de evoluir, crescer e aprender é justamente o momento do estágio. É mais essa virtude que é desenvolvida no decorrer do estágio, trazendo um aprendizado único para o novo profissional.
3) Autoconfiança
Dos pontos anteriormente debatidos, como forma de desenvolvimento das habilidades e atitudes de um estudante na vivência do estágio, vê-se que este último caracteriza-se como consequência lógica dos dois primeiros.
Para que um estudante, em processo de aprendizagem da vida profissional possa se sentir de fato autoconfiante, ele precisa prioritariamente ser responsável pelos seus atos, e por conseguinte, ter a percepção clara de suas deficiências e assimilação dos erros cometidos. É com a soma desses adjetivos que o estagiário passa a essa terceira fase, qual seja, o momento em que a confiança em si próprio e no seu trabalho desempenhado cotidianamente começa a ser percebido pelos que lhe rodeiam.
É incorporando esse espírito confiante que o estudante aflora os seguintes predicados: identidade própria, iniciativa, competitividade, capacidade de trabalhar em grupo, espírito de liderança e pró-atividade. Tais características irão gabaritar esse estagiário para o mundo, servindo como indicativos precisos das pretensões de carreira pelo estudante.
São inúmeras as pesquisas que apontam a autoconfiança como sendo um dos principais fatores para obtenção de sucesso profissional. De acordo com o especialista em desenvolvimento humano, Eduardo Shinyashiki3, a ausência dessa habilidade atrapalha a carreira de qualquer profissional, pois faz com que ele deixe de confiar em seus talentos, competências e capacidades. Ainda segundo o especialista, a falta de autoconfiança nada mais é do que medo.
Nesse passo, após uma exposição sobre as habilidades e atitudes que são desenvolvidas pelo estudante no curso do estágio, constata-se mais do que nunca a importância desta fase na formação profissional.
Como asseverado inicialmente, o mercado profissional da atualidade, por estar cada vez mais competitivo e encharcado, requer pessoas com características de sucesso, capazes de desempenhar com eficiência as tarefas atribuídas. E como salientado, o curso do estágio é um laboratório real propício ao nascimento e descobertas das características acima apontadas.
Partindo da premissa que o mercado globalizado necessita de profissionais cada vez mais especializados, atingiu-se uma intuitiva ideia: o estágio não é uma mera complementação a formação profissional, mas parte fundamentalmente integrante da mesma. Tudo porque ainda que a quantidade de faculdade espalhadas pelo Brasil seja desmedida, verificou-se a maneira mais proveitosa de driblar a implacável concorrência.
Verificou-se que o momento do estágio é propicio ao desenvolvimento de habilidades e o aprendizado de novas atitudes. A responsabilidade, percepção das deficiências, e a autoconfiança começam a aflorar neste estudante, preparando-o para o mercado profissional.
É possível que a unidade concedente, ente fundamental neste período, possa perceber que aquela “molécula”, ou que aquele “rendimento” valeu por todos os cuidados e investimentos angariados, pois é o novo profissional formado pela empresa que promoverá seu desenvolvimento ao passar dos anos.
Percebe-se, dessa forma, que um bom estudante precisa tão somente de uma boa oportunidade de demonstrar todo seu potencial, e dessa forma poder se firmar como um profissional realmente preparado para os obstáculos da vida do século em que vivemos.
Há quem afirme que um estagiário é um “nada jurídico”, contudo é entendimento passível ao senso médio que os próximos melhores cientistas, médicos, engenheiros e advogados estão estagiando neste momento, e em empresas que visam a formação de um profissional de qualidade. Essa é a grande troca que a relação havida nos demonstra.
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1 Disponível em: http://www.abres.org.br/v01/stats/ - Acesso em 25/8/2012
2 Disponível em: http://users.hotlink.com.br/egito/laotse.htm - Acesso em 25/8/2012.
3 Disponível em: http://www.administradores.com.br/informe-se/carreira-e-rh/autoconfianca-e-fundamental-para-profissional-obter-sucesso/48390/ - Acesso em 26/8/2012.
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*Pedro Henrique Oliveira é aluno da Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP e vencedor do VI Concurso Nacional de Monografia "Orlando Di Giacomo Filho", de iniciativa do Comitê de Ensino Jurídico e Relações com Faculdades do CESA - Centro de Estudos das Sociedades de Advogados
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